COMO FICAR MILIONÁRIO

As respostas são sempre o primor das perguntas.

E se o meu amor cessar? E se a patente da saudade de repente abater a evolução dos ritmistas no próximo carnaval? E se o meu time abandonar o futebol? E se eu não for nada além da minha possibilidade indecisa?

Alguém responde?

Ainda não fiquei rico. Tampouco ficarei. E ainda não aprendi a ter inveja de quem o é. Os muros do meu coração não dão para o condomínio, o infinito condomínio de condomínios excludentes: meu coração mora numa rua crua, sem chão, luz, nem casa.

E dorme na rede.

O meu coração só descansa embalado. Como descobri, afoito e descrente: não serei mais o titular deste consórcio cujo lance é a antecipação do meu desespero. O meu coração só descansa embalado. Aprendi ao desfazer o contrato. Difícil foi reanimar o vendedor: devolve a comissão, meu caro... Devolve a comissão que eu lhe apresento um mundo sem propostas, nem ofertas, nem os brindes que nunca o estimularam a vender: o meu coração só descansa embalado.

Avisaram as moças do meu tempo: - se conforto não dá, família não há!

Daí passei duas adolescências inteiras focado nas metas. Comprei imóveis e vendi imóveis. Representei indústrias e abri comércio. Autos, motos, barcos, lanchas, motores e planadores... Tive cliente por vinte e cinco horas ao dia.

O meu coração não descansava.

Esqueci de ficar rico: não deu tempo: estive preso ao tempo das moças do meu tempo: e delas agora percebi: não há saudades.

Joguei no Cavalo: deu Burro. Deixei o emprego: deu em descrédito. Realinhei os sonhos: deu sono.

E aí, porque, por quem, por qual: os desejos entram, a moral levanta, o costume bom é se entregar ao suor dos dias oferecidos aos outros que se escondem de tal forma que nem desconfiamos: ele vive na praia, camarada...! Está nos iates da vida!

Desisti.

Embalei o meu coração na rede. E quero ver quem desamarra. Não fiquei rico nem ganhei fama, e as faltas que me existem são outras: nem consegui convencer as mulheres do meu tempo de que valeria a pena.

Tudo poderá: se a mão que esconde a sombra for a mesma que balança a rede.