COR DE MÃE

Penso que esta História de ser mãe tem um começo bem remoto. Que a menina já nasce com um colo maternal e que há em seus gestos, um quê de quem carregará orgulhosa outras vidas aconchegantemente aninhada à sua.

A minha história de mãe é tão comum quanto especial, assim como deve ser a história de tantas. Cabe-nos então a missão e crescer juntinho com os filhos um dia após outro e cuidar para que os sutis dissabores não tirem as cores do mundo que circunda esta relação.

E é sobre cores, amores e sabores que desejo falar.

Já estava cansada dos dias cinza e havia tomado uma grande decisão. Qual fossem as adversidades, iria tingir o meu mundo com as cores esquecidas. Não perdidas, apenas guardadas em gavetas por um tempo.

Não. Eu não podia permitir que desbotassem. Cores não apenas matizam o meu mundo, mas se misturam às cores de quem amo.

Penso que existem pré-requisitos indispensáveis para ser mãe, ao menos para as que se decidem sê-lo. Colorir a vida é um deles. Não podemos negar ao filho as cores que moram dentro da gente.

As cores não precisam ter brilhos homéricos, pois holofotes apenas camuflam sentimentos, sorrisos e ações exageradas como se quiséssemos esconder o cinza, o pardo com purpurina e resplandecência artificiais.

Nós mães, às vezes, em nosso labor diário, misturadas a tantos papéis, teimamos em buscar perfeição. Mães, mulheres, profissionais, filhas, gente, ufa!!

Pensamos ser feitas de material bem mais resistente do que o humanamente recomendável e, obviamente, o excesso de carga danifica, avaria os aparelhos internos e até os externos. Caso cheguemos a este extremo, é inteligente e saudável respirar, cultivar o humanamente recomendável e apenas fazer o melhor que nos é possível.

O papel de mãe pode ser muito fácil se tirarmos a vestimenta de “super heroína”e vivermos. Simplesmente saborearmos desta oportunidade divina, única, com intensidade prazerosa, responsabilidade, cuidado e leveza. Quanto mais leves nos sentirmos nesta relação mais o arco-íris se forma, transformando sutilmente nossas vidas. Os ansiolíticos e antidepressivos tornar-se-ão coadjuvantes com pouca evidência em nosso cotidiano.

Por amor aos filhos devemos exercitar uma paixão gostosa por nós mesmas, um imenso bem querer. Permitir os sorrisos despretensiosos, passar mais tempo observando-os brincar... sem pressa...aprender com eles, brincar também.

Além destas cócegas para aquecer a alegria, fazer também cara de séria e dar lição de moral sempre que necessário porque, acreditem, nossos filhos mais do que precisam, gostam.

É esta a arte, o segredo milenar que nos é confiado assim que um ser se mistura ao nosso corpo e de semente se faz gente, metamorfoseando em nosso ventre. A arte de doar, de dosar, de criar, de respirar, de amar. Arte que nos penetra, preenche-nos de uma forma tão intensa e intencional que estamos sempre inventando forças para recarregar baterias, libertar as cores das gavetas e prosseguir.

Os filhos não nos cobram grandes feitos, não esperam ações arrojadas.

Não precisamos sair em jornais ou afixarmos faixas em cantos estratégicos da cidade propagando o nosso papel. Querem apenas o essencial. E isso mora no olhar, no silêncio, no toque, no dia a dia.

Valéria Matos Escobar

Maio