DIÁLOGO ENTRE O ANCIÃO E O ADOLESCENTE


 
 
 
Não sei quem foi o tonto que criou ou inventou essa besteróide de terceira idade já que idoso será sempre idoso sem nada para mudar, aumentar ou diminuir a sua idade quando já ultrapassou os sessentas primaveras. Passou para a lista dos anciões e pronto.
Não existe e nunca existirá primeira, segunda ou terceira idade. A idade é uma só. O ser humano pode ter um minuto, uma hora, um dia, um mês, um ano ou cem anos vida e nada mais do que isso. Confundir o ciclo de vida do ser humano com a sua idade (salvo melhor juízo) é uma bobagem e tanta. As etapas da vida não podem ser confundidas com primeira, segunda ou décima idade. Até porque cada ser humano amadurece [envelhece] ou se mantém criança de acordo com o seu grau de evolução e a sua vontade de viver. 
Hoje em dia, contados a partir de uns quarenta anos atrás os jovens são deixados muito cedo à própria sorte, sendo cuidados por profissionais e não pelos seus pais, a vista da correria e afazeres extraordinários do casal que deveria fazer isso. Nas grandes metrópoles os bebês em tenra idade, até por necessidade são criados por empregadas ou nas creches. É bem verdade que nas cidades do interior do Estado e do Brasil ainda é mantido a tradição da família acompanhar os seus bebês até a formação universitária e desta forma as crianças em melhor convívio com os pais.
A meu ver aqui está o grande problema dos desencontros das crianças e dos jovens adolescentes. Não sabem se comunicar com os adultos como antigamente.
Há sessenta ou mais anos atrás o diálogo entre um jovem de catorze até vinte anos de idade com uma pessoa de mais idade, coisa de  sessenta anos ou mais era assim:
JOVEM - Bom dia meu (minha) senhor (a). Como estão todos da Vossa casa? Tenho muito prazer em conversar com a vossa pessoa. Aceita entrar e tomar um bom café quentinho conosco?
ANCIÃO (Ã):   - Bom dia menino (a). Graças a Deus em casa estamos todos bem. E a sua família? O prazer é meu. Gosto muito de conversar com os jovens porque eles sempre têm novidades. Se me permite terei muito gosto em tomar esse cafezinho.
E a conversa versava sobre vários assuntos com muita educação e respeito. É importante dizer que isso acontecia com muita naturalidade. Enquanto que atualmente acontece esporadicamente e de forma bem diferente.
JOVEM - Oi tiozinho. Ta na boa? Tudo suave? Meu veio hoje to muito ligado. Vou pra uma balada ficar com uma mina muito dez. Tem uns manos do bem e lá rola um baseado legal. A gente fica muito louco.
Então o ancião tenta dar  trela e iniciar uma conversa, mas sem nenhum sucesso.
ANCIÃO - Boa tarde jovem. Como estão os seus pais?
JOVEM - Ei tiozão deixa pra lá. Tudo nos conforme. O papi e a mami estão noutra. Xau. [os jovens não escrevem e nem falam corretamente tchau].
Como  se diz na gíria: “fim de papo”. Não tem nada de diálogo. Ainda querendo concluir o diálogo diz o ancião: 
- Rapaz, eu já tive a sua idade. Hoje tenho oitenta, modéstia a parte, bem vividos. Não sei, mas imagino o que você pode estar sentindo no momento. A vida tem nuances. Nós enquanto jovens temos mil idéias, mil planos e muita energia para iniciar qualquer tipo de empreendimento e projetos. O problema é que no meu tempo a gente tinha paciência para ir eliminando cada obstáculo que aparecia. E hoje em dia no primeiro problema que aparece os jovens largam tudo e jogam fora muitas oportunidades. Nem os seus próprios progenitores ouvem. Para a juventude atual os pais são caretas e inadequados. 
Perguntamos: Qual seria a resposta ou argumento do(a)  jovem que ouviu essa explanação?   
Penso   que  seria  assim:
- Se liga vovô. Já to noutra. Pra que me stressar? Quem quiser que pegue essa bucha. Só vou fazer aquilo que render algum agora.
Por  essa  razão é  que deixo aqui a minha opinião, porém, sem  fazer juízo de valores: Quando eu entrei na escola [Grupo Escolar Henrique Botelho] na minha querida São Sebastião, todos nós alunos enfileirávamos para cantar o hino nacional brasileiro, bem como o hino à bandeira antes de entrar na classe. Todos se cumprimentavam. Falávamos cordialmente com nossos professores. A gente se sentia orgulhoso quando o(a) professor(a) nos chamava para alguma tarefa. Era sinal de estima e confiança na gente por parte dele(a).
Lembro-me que desde o primeiro até o quarto ano primário (hoje ensino fundamental)  tínhamos como disciplinas além da linguagem (português) e aritmética (matemática) as matérias de educação física, educação moral e cívica, aulas de trânsito e  até  aulas  de  música. Engraçado que somente uma meia dúzia de pessoas possuíam automóveis.
Tínhamos também aulas de pesca, aulas de trabalho manual e aquela disciplina que eu mais adorava: canto orfeônico [música], cuja professora era a dona Verena. De quebra já no segundo ano o meu professor Euclides Ferreira que era um virtual violinista lecionava gratuitamente aulas de reforço na música.
Assim é que vejo com alegria o progresso material e tecnológico do No Brasil e no mundo a modernidade está presente A informática e a cibernética são realidades. O mundo virtual e a comunicação visual não são mais surpresa nem para crianças de dois ou três anos de idade. A imprensa escrita, falada e televisada nos alertam diuturnamente de tudo o que acontece no universo. Se bobearmos a gente é alijado até do nosso próprio  sentimento. Já não temos tanta autonomia como antigamente.
No entanto  me preocupo muito com o nosso futuro. Até onde vamos chegar?  Exatamente por isso que escrevo sobre esses diálogos entre o ancião e  o adolescente hoje em dia até fora de moda, salvo em alguns casos entre pais e filhos, avós e netos, mas que entre desconhecidos  é raro se ver. E se acontece é muito curto e sem objetivo prático.
Penso que os valores modificados de acordo com o crescimento material de uma nação muitas vezes atrasa o crescimento moral do cidadão. Tudo acontece porque deixamos de lado alguns princípios morais básicos de lado. Talvez  daqui a trezentos anos a fé e a crença em Deus se renovem no homem. Como disse antes por conta do progresso do mundo nos achamos tão auto-suficientes que esquecemos de que DEUS existe e está junto de nós.
Na realidade esse meu preâmbulo um tanto extenso foi para melhor elucidar um diálogo que presenciei entre um jovem e um senhor de meia idade há uns vintes  anos passados que muito me impressionou.
O JOVEM: - Ei vovô você bem que podia me dar uns trocos pra que eu possa comprar um lanche. Desde ontem que não como nada e não sei se terei chance de comer mais por estes dias.
O ANCIÃO: - Pois não garoto. Eu posso até arrumar esses trocos que você quer. Mas antes me explica porque um jovem bonito, bem apessoado e forte não está no colégio ou trabalhando e fica mendigando pela rua.
O JOVEM: - Explico sim meu senhor. Eu sou um morador de rua que cata papéis e bagulhos de toda natureza que encontro pelos caminhos onde ando. Cada dia e cada noite eu durmo em um lugar diferente. Tudo o que eu ganho eu gasto comigo. Pago a escola particular onde estudo, compro meus livros e me garanto. Só que esses dias chuvosos e frios não me deu condições de trabalhar. E além do mais o único dinheiro que eu tenho só dá para pagar a taxa de inscrição na faculdade. Eu quero ser advogado para defender as causas dos pobres.
- O senhor quer ver os meus documentos e todos os meus diplomas primários e secundários? Estão todos comigo guardados em uma mala numa banca de revistas de um amigo que os esconde para que ninguém mexa.
O ANCIÃO: Nossa! E por que você quer se formar e defender os pobres?
O JOVEM: - Porque eu e os meus dois irmãos nos perdemos e fomos abandonados quando os nossos pais foram despejados da casa onde morávamos, mesmo  que nada devessem, pois eles compraram e pagaram o imóvel com muito sacrifício. A pessoa que se dizia dona do imóvel, advogados, juízes e promotor não consideraram os documentos que papai tinha como bons. Disseram que eram falsos e infelizmente eles não tiveram como provar o contrário.
- Quando veio à ordem de despejo para a reintegração de posse trouxeram um caminhão que levou tudo para um depósito e os meus pais ficaram na rua desamparados. Foram vendendo tudo aos poucos. Adoeceram e morreram sem que nós pudéssemos fazer nada. Os meus irmãos que eram pequeninos logo conseguiram um abrigo e quem os adotassem. Eu continuo aqui. Mas hei de me formar e cuidar de tudo isso. Quem sabe um dia eu não consiga salvar alguma família que tenha passado pela mesma situação que os meus pais passaram.
O ANCIÃO:  - Tome garoto. Pegue esse dinheiro e vai se alimentar. Depois vá buscar a sua mala e todos os seus pertences onde estiver. Tome um taxi e vá a este endereço sem falta hoje mesmo, antes de ir para a escola. Não se preocupe. Se o dinheiro que estou dando agora não for suficiente para pagar o taxi peça para o motorista receber tudo comigo quando você chegar. Ta bom?
Concluindo:  O que aconteceu depois eu só fiquei sabendo anos depois quando o mesmo jovem, já formado esteve no cartório onde eu trabalhava e me contou.
- "Naquele mesmo dia o meu benfeitor que se chamava  Paulo   e  era  advogado  aposentado me apresentou à sua esposa dona Idalina e pediu para que eu repetisse com detalhe tudo o que tinha acontecido.  Eu fiz isso. Quando terminei estávamos os três chorando copiosamente. Dona Idalina ajoelhou-se e começou a rezar e agradecer a Deus. Eu não sabia de nada.
De repente chegam dois rapazes bonitos e fortes bem vestidos. Eram os meus irmãos dos quais eu tinha me separado. Quase morri de alegria, de susto e de surpresa. Dona Idalina não se cansava de rezar e agradecer a Deus.
- Me contaram que durante anos me procuraram por todas as partes, pois os meus irmãos pequeninos não sabiam explicar nada a não ser que o meu nome era Nandinho.
​​​​​​​Só sei de uma coisa importante que o doutor Paulo que eu havia acabado de conhecer me falou:
- Meu filho, você será o melhor advogado do mundo.
Agora já estou prestando concurso para a magistratura. Se Deus quiser vou realizar meu sonho de menino em memória e homenagem aos meus pais".