A Ignorância É Uma Bênção!

Chegar a um pub londrino e invocar a vã filosofia sob qualquer tom alcoólico pode soar "two bier or not two bier". Eis a existência do garçom: servir aos pares ou não?

Dê graças à graça: Amaral, o volante, encucado sobre as intervenções do treinador Luxemburgo (a Libertadores poderia ser influenciada pelo perigo do ar rarefeito) logo tratou de tranquilizar os seus companheiros de Palmeiras: "pode deixar que eu marco essa tal de altitude".

Perguntar não ofende: se não existe momento bom pra levar gol, tampouco momento ruim para fazê-lo, por que insistem os especialistas em comentar que "o gol saiu na hora certa"?

Outra coisa, Amaral dá graça à graça, e isso basta, nada a ver com ingnorância maior do que o folclore. Nunca foi o Amaral um volante ignorante, ou pessoa como jogador, nada.

Aliás, quem ao Amaral por ignorante trata, ignorante é.

Está na máxima das caixas de ovos: cuidado, frágil. Quem, o ovo ou a casca? No modo de transporte, quem vem primeiro, o ovo ou a salmonela?

Havia o Macedo, bom de bola e extremamente receoso: "que medo dessa tal de altitude". Certa vez, a caminho de La Paz (milhares de metros acima da gente) o clima era tamanho que, desembarcando em Santa Cruz de La Sierra para uma conexão (solo já boliviano, entretanto, da altura da gente), o jogador saiu pela porta do avião e passou a sentir os exagerados sintomas da altitude. Pode?

Pode. O perigo, quando ignorado, ataca por antecipação.

Aécio Neves, o senador, comete uma infração que repercute urgente pelo país. Qual não é a surpresa? Sempre o mais do mesmo sempre: parlamentares se solidarizam a ele (por sua atitude?).

De que ignorância falamos?

O que ninguém pode, consegue, sabe, tenta... É ignorar o futebol de Lionel Messi. Disseram alguns especialistas, aliás, muitos (depois desses alguns): "o Real Madri encontrou o jeito de jogar contra o Barcelona".

Mas se esqueceram, os especialistas, de constatar que esse tal jeito tem nome: anti-jogo!

Acontece que, se você (leigo de tudo) for cobrá-los, aí eles tornam a você o Amaral das altidudes, ou o efeito rarefeito sobre Macedo.

Aí você, que talvez nem se imagine num pub londrino, é obrigado a ter com o "to be or not to be". E não há garçom para servi-lo. Aí você renuncia, entrega o dom da opinião a quem apenas repete, com tom de obviedade, aquilo que raramente é fato.

Imagine você então que contar uma notícia é o mesmo que colocar a sua alma nos fatos.

Ou, pelo menos, a sua versão.

Em qual ignorância devemos depositar as nossas (des)esperanças?

::Originalmente: http://academiadabola.wordpress.com/