O CANTO DO UIRAPURU
José Ribeiro de Oliveira
Eu queria te encantar, assim como fizeste comigo, sem nenhum esforço e, por certo, involuntariamente. Queria te fazer arregalar os olhos, mudar o rumo, faltar a voz, tremer as pernas, desnortear os pensamentos e acelerar, no coração, os batimentos, como fizeste em mim. Pensei em te fazer versos, escrever teu nome na areia, mandar mensagens de amor, te enviar perfumes na flor, fazer uma canção singela, para cantar na tua janela e te chamar atenção. Mas verso não sei fazer, cantar não conseguiria, e de outra forma não poderia, te encantar para ardor. Recorri a um beija-flor para te mandar um recado, porém depois desisti, é mensageiro manjado. Mas fiquei extasiado quando ouvi o uirapuru, cantando na mata virgem e silenciosa, uma canção bela e misteriosa, que me encantou a melodia. Não sei o que ela dizia, pois não entendo a linguagem dos passarinhos, mas minha alma emudeceu, na poesia sem pergaminhos. E uma coisa garanto, se escutares tal canto, ficarás tão encantada, conforme também fiquei. Depois encontre poesia, que tenha em si melodia, como esta que te mandei.