Simulação

Simular não é o mesmo que acontecer, precisam entender os jovens dessa geração mais jovem: a vida atravessa, e isso é o ponto: seja do ensaio que sair: amor, desamor – esperança!, importa apenas que não há rascunho. Vida é ser, e acabou!

Dito o óbvio, além: nossos pais destes jovens tão jovens quanto eu – na idade e tudo o mais – não ouviam pagode, é a bem verdade, mas eram telespectadores natos. Já os nossos avós de todo mundo, pais dos pais, demoraram a conhecer a televisão.

Taí a onipresença do que não será nunca igual. No entanto, ser da geração já! é reinventar o faz de conta: carochinha não sai dos livros, lá elas apenas moram.

Parece simples existir, pois que a gente cresce pra cima e corre pra frente, e caso admita esta possibilidade como cotidiana, eis os homens prestando contas com as devidas partes. “Cada um faz o seu”, essa é a regra. Mas, qual é o próprio a ser feito? – eis a pergunta!

Não, dessa geração ninguém tirará resposta nenhuma. Faço parte dela, e sei que empobreci também: quero grana, e não, ideias!

Ocorre que é próprio dos avós apreciarem uma novelinha. De preferência, todas as globais exibidas em um dia. Dão sempre umas três ou quatro. Ou seja, acabou o exemplo.

A nossa referência é um tubo da internet que eles dedicam “a você”, com imagens e sons, de tudo o que for possível captar, seja gente ou seja coisa, ou mesmo gente-gente ou gente-coisa. E daí nos dá um desejo natural de que podemos ser telespectadores, desde que a imagem nos permita ser reprisada.

Simples: o que mudou foi a atenção.

Decerto, enquanto a palavra cai no papel virtual do “Word” (.doc, manja?), alguém a retira e coloca sujeira embaixo, por exemplo, perguntando quem serão os “eles” que dedicam algo pela internet?

A adversidade nunca foi tão complexa. Atualmente é necessário preparar o oponente com os seus (meus) argumentos, para daí ocasionar um debate. A intransigência é um dom dos velhos. Liberdade, definitivamente, é algo a ser conquistado. Quando dada, é página fechada.

Tenho dito: a diferença entre a direita e a esquerda tornou-se menos elementar, mas não há filosofia invernal capaz de limiar que ambas são incapazes de se tocarem quanto ao mal da fome. Entretanto, morfologias indicam: um garante que a fome é culpa da boca, já o outro crê que a culpa da fome esteja na própria comida.

Como não existe direita ou esquerda? – cai você com o Muro de Berlim. Não pense nisso, caro amigo desta ou daquela geração: o amor sempre será ridículo, posto que um dia era carta ridícula, e hoje será um e-mail.

Detalhe fundamental da gente: declaração à distância é a nossa única coragem.

O ser humano, quando encara, é demais: ele nunca está lá. Caso esteja, será fraco: há sempre uma desgraça. Talvez seja a única espécie dentre os animais comunitários: que vive menos em paz do que em guerra. Será guerra? – É humano! A razão incomoda demais, pensar dói mais que um pontapé. Daí tem brasileiro afoito para dar razão ariana aos gestos, mesmo que aos arianos apenas os gestos arianos importavam, mas daí tem brasileiro que é só contradição.

Quer apurar a humanidade? – lobotomize o Brasil!

Mas não de modo hostil, não lhe abra a cabeça num corte literal, faça apenas um questionário sem perguntas nem respostas; não os observe: os brasileiros; sinta-os. Brega, né? Também acho. E essa é mesmo a proposta. Sinta-os e excite-os, espero eu, então! Sim, humano médio, brasileiro: pudor pra fora, calor por dentro, calor de fora, pudor pra que mesmo? – Quase uma regra. E brega do mesmo jeito. Filosofia aqui é primavera. Direita e esquerda pra que? Pelé que era Pelé batia bem com as duas, tendeu? To te explicando a existência, e pra isso consigo unir os sujeitos, entende você? Tu sabe, amigo, brasileiro é... Quer saber do humano? Então tá.

Tudo aconteceu de repente e já encheu o saco ter vontade daquilo que sempre nos prometeram. Um dia – quatro na verdade – decidi ser tão diferente que não consegui sair disso.

Pronto. Por isso ando falando de coisas que parecem perder o sentido, mas olhe você se não há verdade fajuta maior em querer ser jovem a vida inteira e esquecer que ser humano faz sentido. Assim podemos esquecer o Brasil sem deixá-lo. Então, nada acontece pelo videogame.

Nada. Frustrado, né?

Toque a mão dos olhos da vizinha com a ponta dos dedos do futuro e verá você que nenhuma imagem de webcam vibra tanto o coração.

Faz, imagine; imagine, faz. Apenas assim da pra criar.

E matar uma geração inteira de curiosidade: o fim da novela ainda nos diz “boa noite!” pela voz do Willian Bonner.

No fundo, estamos muito parecidos com os nossos avós. Nada mais óbvio: o desastre em uma geração é mero detalhe na outra.