O COVARDE DE REALENGO
Quem, nesse momento, não chora?
Clama-se por uma explicação. Ou que pelo menos possibilite alguma pergunta concreta, ou assuma a condição tangível.
Nem assim.
O cara - armado e intencionado - já se havia aprontado com o adeus. Estava disposto a ser covarde.
Ficcionou a realidade: desta vez o mundo daria a atenção que a rejeição desviou por toda a vida, na formação de uma alma deformada.
Mas que atenção! Um dos maiores covardes da história do Brasil.
Criancinhas, só isso. Nada tinham a ver.
Entrou pra história, o infeliz?
Sim. De renegado a psicótico!
Veja bem, ele não era psicopata, mas sim, um psicótico! Realidade, para ele, chamava-se ficção. O psicopata sabe de fato o que é atravessar a rua olhando para os dois lados no mesmo momento em que calcula para o sofrimento alheio algo de silêncio e desespero. Já o psicótico crê que nunca há rua a se atravessar quando a gente voa, e lhe é óbvio que a gente voa.
Carrasco, infantocida: marcou o seu nome em pedra fria.
Vai aquecer no fogo do descaso. Condenado até a alma: insano, desumano.
Que chance tinham aquelas crianças? Aquelas mesmas, que nada tinham com os molestadores de antes. Não era deles a sua raiva?
Por que as crianças? Por que uma sala trancada? Por que tantos tiros?
A gente quer resposta.
E nunca mais ter que morrer de medo à beira da porta da infância.