Dia Feliz II
Hoje o dia terá um momento feliz, tomara, e sei a que veio você.
Certamente buscar uma palavra de esperança, uma mensagem alegre, qualquer possibilidade de um dia feliz servir como elemento pacífico, preciso, evasivo, certo?
Aqui você terá. Apenas se tratar com outro alquimista.
Nada disso. Os dias andam tensos. Reparei nos títulos dos textos aqui postados, valem mais que o conteúdo em si. Um tal de “roberto” escreve tudo em minúsculo na máxima catarse, sai da plenitude poética uns versos lindos sobre qualquer cotidiano, e quanto mais sei, o vejo catar vinte ou trinta leituras. No máximo. Triste. Roberto minúsculo não conta das alegrias latentes, dele nunca vi autoajuda, gêneros adjacentes ou motivação além da literatura. E que literatura!
Mas com esses títulos, roberto, um país inteiro que vive apenas da manchete não cairá em seus conteúdos.
Ninguém sabe ser profundo, amigo roberto. Apenas você, Ana Luiza e outros alguns. Poucos mesmo. Ana Luiza deve ser a moça da voz no aeroporto, ela dorme nos sonhos, ela escreve com beleza de quem fala e não se mostra. Num tempo do mostrar e não ver – pois que ver é tão profundo! – é em Ana Luiza que aplico a imaginação.
Ambos, Ana Luiza e roberto, publicam aqui com alguma insistência. Não falam de beleza-tecido, de maquilagem carregada ou daquilo que não pesa.
Pelo contrário. Admiram-me os chumbos de suas palavras. A ideia impossível ser tratada por segundo plano (afinal, o que fazemos na vida?). Admira-me o tapa na cara.
Ambos, Ana Luiza e roberto, publicam textos com títulos não chamativos. Espero que ambos, Ana Luiza e roberto, jamais leitores de minhas palavras leves e sem graça tenham piedade de nós, e continuem escrevendo palavras de chumbo.
A minha literatura ainda pena.
Mas não é tão leve assim. Há dureza suficiente na verdade da gente que, se vivida inclusive na literatura de sempre, arromba. Sem prazer nem piedade. Mas o reflexo da reflexão é obrigação da palavra.
Ou então imagine você o que fez a palavra estar presente? Quanto ouro de uma tonelada inteira se derreteu para que nem o dente de bronze aproveitasse? E de lá, claro – todo esse tempo – se soubessem cunhar a palavra no ouro, avisariam: “é ouro! ouro! é ouro e só!”.
Desperdiça a palavra para você ver...
Pois que, para uma perfeita solução, são precisos intermináveis rascunhos. Imagine a história composta: sonho, fantasia, delírio, realidade, ultra-realidade... Imagine você, a história recheada. Dane-se a mensagem, pois que vale é o caminho!
Uns dois ou três passos dentro de uma rua morta.
Já pensou quantos fantasmas você deixa por lá?
Pois bem, vejamos que realidade: como explicar que se apodere da verdade absoluta um tirano, a responder ao mundo – leviatã na trajetória – com despudor de uma covardia brutal?
Eram apenas crianças! No colégio das almas, palavras de Castro Alves, “deus, ó deus, onde estás que não te encontro?”. Tira divindade deste caso, é fantasia pura. O sujeito não tem por realidade, inclusive acusa a impureza de quem nós vêm aqui, por exemplo, ler destas palavras que não confortam, não avisam, nem nada. E coloca o mesmo poder a quem, por obviedade, veio você atrás quando leu o título desta crônica.
Por que um dia feliz? De que esperança você fala, afinal? Um cara fecha a porta da sala de aula com crianças dentro. Está ele armado e disposto a acertá-las. Existe covardia maior?
Que tipo de conforto buscamos?
Choraremos contra toda a possibilidade covarde, pois que de uma pedra linda nasce um nome Jade de menina, que narrou por incrível oração a sua fuga, a maneira que conseguiu viver e desenhar uma casinha.
Expressão máxima das possibilidades! Choramos todos, Jade! Obrigado por conseguir viver, nós merecemos a sua presença.
Por condição de outro imaginário, este texto aqui não entrará no mérito, apenas lamentará. Pela possibilidade de que os fatos nos liberassem um texto ululante e outras controvérsias sobre a nossa vontade de encontrar a melhor fantasia.
Não deu.
As palavras choram. Dane-se a nossa iminente limitação de leitor! Não há ironias, nada é plausível, o controverso se uniu.
Quando a realidade dói demais, a fantasia derrama.
E vira ralo.
Escorre, esvai. Evapora.
Um dia feliz, ainda iremos falar. Mesmo que jamais encontremos onde dorme a cicatriz dos nossos dias.