PERDENDO ESPAÇO

Perdendo espaço

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Em última análise, um texto de uma matéria jornalística é um discurso, embora silencioso; sob a ótica do filósofo Platão, esse discurso seria verdadeiro ou falso, somente isso.

Entretanto, percorre-se extenso espaço ao se caminhar do extremo do discurso verdadeiro até o do falso.

Um jornal realiza a essência de seu objetivo quando publica uma notícia, que vem deliberadamente acompanhada de um título chamativo.

Ao lê-la, de imediato, o leitor poderá ter diversas reações, a dependerem de seu estado emocional, da atenção que dedique a cada palavra lida, ou de seu conhecimento anterior sobre a matéria, já lida ou ouvida em outra fonte.

No decurso da leitura sua atenção poderá diminuir na medida em que a matéria for perdendo interesse, seja porque o conteúdo não representa o impacto sugerido pelo título, seja, outras vezes, porque as primeiras linhas já renderam boa idéia do restante do conteúdo, seja, ainda, porque o leitor percebe que a matéria avança para direções inverossímeis.

Esta última condição, aparecendo em outras partes daquela mesma edição do jornal, cria no leitor a sensação de que tem em mãos um noticiário chocho.

Tal sensação de chochice prepara-o para fechar rapidamente as páginas daquele instrumento informativo que, ao invés de aguçar sua avidez pelo fato novo, remete-o ao campo da redução de credulidade.

Se esta redução de credulidade espalhar-se por mais de um leitor o veículo de comunicação impresso fadar-se-á a ter breve desaparecimento, através de um processo não lento e muito menos gradativo.

Nenhuma dúvida paira que a história se registra através de páginas de um diário, semanário, quinzenário, mensário ou até mesmo de um anuário, se bem que este último se preste melhor a registros estatísticos.

De qualquer forma, o presente busca no passado argumentos para arquitetar o futuro.

Abrindo um livro de matemática, nele estarão inscritos conceitos, teorias , teoremas e fórmulas que já têm centenas de anos de vida, mas que até hoje dão suporte a incontáveis aulas que professores proferem para seus alunos. E assim continuarão porque contestar verdades matemáticas requer conhecimentos preliminares superiores aos contidos nesse livro. Ainda que raras, também há quedas de sentenças matemáticas.

Porém sentenças do cotidiano são simples e fáceis de serem derrubadas, principalmente se sua essência não se equilibrar em verdades fotografadas por lentes transparentes e que não deformem o objeto registrado.

No instante em que esta modalidade de fotografia transpõe-se às palavras é indispensável que, além de não provocarem distorção de imagens, também não gerem entendimentos errôneos, dúbios ou subjetivos, isto é, que cada leitor interprete a seu modo o que estiver escrito, a menos que seja esta a intenção declarada do redator.

Quando se fotografar uma orquídea o retrato poderá ser em preto e branco, ou ser colorido, variando-se os tons das cores por conta do processo de revelação, todavia a foto será a de uma orquídea, sempre.