Animais abandonados, humanos omissos

Caminhando pelas ruas do Centro de Viçosa-MG na última segunda-feira (28/03) vi uma cena que costuma mexer muito comigo, principalmente por me remeter a uma sensação de impotência diante de algo bem maior do que minhas mãos podem alcançar. Uma cadela grávida deitada no passeio de uma agência bancária buscava proteção do forte sol de meio-dia. Com respiração ofegante, ela parecia estar sentindo alguma dor, além do possível incômodo da fome e da sede.

Minha primeira reação foi ligar para a SOVIPA - Sociedade Viçosense de Proteção aos Animais, a única na cidade que realiza há um bom tempo o trabalho digno de cuidar de cães e gatos abandonados. Consegui falar com Clotilde Maestri, a sua fundadora, que me externou a impossibilidade de recolher a cadela por não ter mais espaço no canil que mantém a duras penas através de doações e trabalho voluntário. Ela chegou a mencionar o seu cansaço e a sua frustração diante de uma realidade que parece fadada a só piorar.

Acompanho há algum tempo o trabalho nobre da SOVIPA, principalmente em recolher cães abandonados das ruas, vaciná-los, vermifugá-los e mesmo castrá-los quando necessário, dando a eles um lar provisório enquanto promove campanhas de adoção. Sei que a ajuda que recebe em forma de ração, remédio e atendimento voluntário por parte de veterinários ou de estudantes da área não é suficiente para tamanha demanda. Trata-se de uma verdadeira missão de pessoas abnegadas, apaixonadas por animais e crentes em um mundo melhor.

Triste é constatar que um trabalho tão grandioso (não apenas pelo amor e pela atenção destinados a seres indefesos, mas pela dimensão de saúde pública que ele tem) não consegue um apoio condizente do Poder Público. Alguns municípios do país têm leis que respaldam o repasse de recursos públicos para manutenção de entidades do terceiro setor que cuidam de animais abandonados. Nestes lugares o debate sobre a importância do trabalho de ONGs como a SOVIPA ganhou espaço no Executivo, no Legislativo, em conselhos municipais e mesmo em clubes de serviço e entidades de classe, a exemplo de associações comerciais, Câmaras de Dirigentes Lojistas, Rotary e Lions.

Encontrar cães, gatos e outros animais abandonados nas ruas é um sinal claro de omissão humana. Eles não têm culpa de vivenciar este abandono, mas nós, sim. As pessoas têm culpa em não exigir dos políticos ações efetivas para solucionar um problema de interesse coletivo e de fácil solução; têm culpa em não ajudar de alguma forma as entidades que defendem os animais; têm culpa em adquirir intempestivamente animais de estimação para depois, irresponsavelmente, maltratá-los ou abandoná-los à própria sorte; e, finalmente, têm culpa em preferir cães e gatos de pedigree, comprados por pequenas fortunas, em vez de adotarem aqueles que aguardam um lar e sequer têm custo.

Gostaria de externar aqui o meu apreço a todos esses heróis de verdade que dedicam grande parte do seu tempo para cuidar daqueles que costumam demonstrar muito mais amor e afeto pelos humanos do que estes por seus semelhantes. Também gostaria de convidar o Executivo e o Legislativo municipais, além de todas as entidades interessadas, a debaterem ações maduras, decentes e efetivas destinadas aos animais abandonados de Viçosa.

Quanto à cadela grávida, ironicamente abandonada em frente a uma "casa de dinheiro", não voltei a vê-la.