A Asma

Sabe o que é aquela sensação, de um dia acordar e não poder respirar? Pensar que a vida acaba num ato sufocante. Buscando sugar qualquer resquício de oxigênio, que possa aplacar seu desespero, encontrando apenas a contração, ou melhor, um espasmo viceral do que se compreende por aprelho respiratório.

Talvez um bom anatomista, pudesse distinguir os diversos setores em que ocorre o fenômeno, outros especialistas exporiam efeitos físicos, químicos, mas para o paciente, na impaciência do "estar sufocado", o que ressalta é a angústia.

Morrer afogado ainda lhe remete a um inimigo mais visível, embora seja maleável até certo ponto, por mais que não respire, sente sufocar-se por uma invasão aquosa. No caso do asmático, esse sente que foi subtraído do mundo no ato de respirar, ausente de captação dos meios corriqueiros a tantos outros organismos, relegado ao esquecimento do ar que não deseja adentrar mais naquele corpo.

Aí aparece a distinção, o próprio corpo que bloqueia o processo de captação respiratória, privando-se do fluxo necessário, um suicida sem o consentimento de tantas outras funções orgânicas, impondo o seu bloqueio. Agoniza-se diante da incapacidade provocada de respirar, tornando o sujeito passivo diante de violenta reação.

Os de fora escutam apenas aquele som que foge do orifício bucal, um desespero aflito em busca do precioso ar, causando aquela vibração sonora que se assemelha a um animal abatido em seu último suspiro de vida. Mas é um suspiro sem ar, abafado, quase totalmente mudo. O resquício de voz é o pouco de ar escapolindo, esvaindo a leve brisa que não aplacaria a necessidade de circulação aérea, pois não basta aprenas apreender, é preciso expelir o apreendido no processo respiratório.

Os olhos esbugalhados, revelam a expressão do medo, literalmente saltando aos olhos, ou seria, os olhos. A face representando a estética do horror, num pressentimento de morte, que faz debater o corpo, que luta contra uma barreira imposta por si, criando uma batalha entre um cessar e um tentar prosseguir.

Ainda percebe-se posteriormente, após o retorno da zona irrespirável, aquela sensação de secura, uma aridez bucal, dando forma espessa ao catarro represado, causando aquele desconforto de uma matéria densa que passa a ser fabricada lentamente, expelida com dificuldade.

O alívio pode vir de um abrir de boca mais alargado, exercitando os brônquios. Também podendo ter algum estimulante químico, como corticóides, onde são tragados abruptamente, feito um ato de soluço, representando a cena da respiração paralisada, numa forma de apreender o medicamento.

Sempre pairando na memória, o desespero da falta de ar, aquela sombra que estará a espreita, aguardando o descuido em medicar-se, a ineficiência medicamentosa ou mesmo a inaptidão orgânica. Fica o pânico do poder não respirar novamente, nem que seja quando estiver dentro do caixão, podendo retornar no último instante do cerimonial e desfrutar do ato de ser enterrado vivo.