O mal exorcizado
“Exorcista-chefe da Igreja diz que há bispos ligados ao Diabo”. Este foi o título de uma reportagem publicada dia 12 último pelo conceituado site da BBC Brasil. Ela, na verdade, reproduz o teor de uma entrevista feita pelo jornalista Marco Tosatti, do jornal italiano La Repubblica, com o exorcista-chefe da Igreja Católica – o padre Gabriele Amorth.
Aos 85 anos, o sacerdote traz no currículo nada menos do que 25 anos comandando o departamento de exorcismo em Roma. Neste tempo ele afirma ter exorcizado cerca de 70 mil possuídos. Em fevereiro último foi publicado o seu livro “Memórias de um Exorcista”, no qual narra as suas batalhas contra o mal. O padre conta que em algumas delas os possuídos precisavam ser controlados por seis ou sete de seus assistentes. “Eles também eram capazes de cuspir cacos de vidro, pedaços de metal do tamanho de um dedo, mas também pétalas de rosas", relata.
Amorth disse textualmente ao jornal que "o diabo reside no Vaticano” e que bispos estariam "ligados" a ele. Enfatizou ainda que os casos de abuso sexual na Igreja seriam marcas do demônio no coração e cérebro desta instituição milenar. “O demônio pode permanecer escondido ou falar diferentes línguas, ou mesmo se fazer parecer simpático", explicou o exorcista na entrevista, acrescentando que o papa Bento 16 acredita e apoia o seu trabalho.
É surpreendente ouvir tais declarações fora dos enredos dos filmes de terror, uma das minhas paixões no cinema. São muitas as grandes produções deste gênero focadas no exorcismo ou na influência do demônio, mas algumas são particularmente marcantes para mim: “O Exorcista” (de 1973), “Coração Satânico” (1987), “Anjos Rebeldes – The Prophecy (1995)”, “O Advogado do Diabo” (1997), “Constantine” (2005) e “O Exorcismo de Emily Rose” (2005).
É como se o sacerdote-chefe da Igreja Católica trouxesse para a vida real os temores que potencialmente imaginávamos existir apenas na ficção. Aliás, questionado sobre o que achava acerca dos filmes sobre exorcismo, Gabriele Amorth citou “O Exorcista”, no qual dois padres tentam exorcizar uma criança possuída. Ele disse que a obra é "substancialmente precisa, apesar de um pouco exagerada".
A minha visão sobre a manifestação do mal na vida cotidiana não é tão clara quanto eu gostaria. Às vezes, em decorrência da minha formação acadêmica, sou impelido a enxergar as manifestações de violência, brutalidade e perversidade apenas pela ótica racional. Mais precisamente, sob as lentes da Filosofia, da Psicologia, Sociologia, Antropologia e de outras ciências que tentam explicar racionalmente a natureza humana. Há, no entanto, momentos em que a razão não oferece mais subsídios que me permitam classificar certos comportamentos. É aí que entra a perspectiva sobrenatural, totalmente metafísica, espiritual.
O jornalista do La Repubblica, que já fez outras entrevistas sobre o tema, escreveu que o diabo atua de duas formas: na primeira, a mais comum, ele aconselha as pessoas a se comportarem mal, a fazerem coisas ruins e até a cometerem crimes; na segunda, que ele diz ocorrer muito raramente, o demônio pode possuir uma pessoa. De acordo com o exorcista-chefe da Igreja Católica, Adolf Hitler e os nazistas foram possuídos por ele.
Para Marco Tosatti, não há nada que se possa fazer quando o diabo está apenas influenciando as pessoas, em vez de possuí-las. Eu discordo totalmente, principalmente porque também acredito no livre-arbítrio enquanto dádiva divina e no poder das orações para afastar o mal.