Maria Bonita e o Dia Internacional da Mulher


Nasceu Maria Gomes de Oliveira, no dia 8 de março de 1911, portanto, viva estivesse, completaria 100 anos de idade na mesma data em que se festeja o centenário do Dia Internacional da Mulher. Li alguns textos que apontaram a coincidência e louvaram a vida da bela jovem, denominada Maria Bonita através da paixão, à primeira vista, que despertou no temível Lampião.

Que sentimento foi aquele que se apossou de Maria Bonita, na flor da juventude, levando-a a sair pelo mundo em companhia de um criminoso admirado de forma platônica e ardorosa, como se ignorasse os riscos e perigos que teria de enfrentar? Talvez, ninguém jamais consiga explicar os meandros da mente humana...

Pelos áridos sertões, Maria Bonita cultivou a vaidade e a formosura femininas, que se entremearam às agruras e também ao amor e à dedicação extremos que uma mulher pode conferir a quem escolheu para viver maritalmente. Não obstante, a vida de Maria Bonita e de Lampião, não é algo de que o povo brasileiro possa orgulhar-se. Sejam quais forem as especulações a respeito dos motivos que levaram ou mantiveram Lampião no cangaço, considero-o criminoso cruel, que ostentou suas ações na lei do extermínio, passando do estupro ao incêndio, do saque ao assassinato frio e desumano. E, se o acompanhava, cúmplice naquela empreitada, Maria Bonita também foi criminosa.

Primeira mulher aceita no cangaço, se a sua atitude abriu caminho para que outras mulheres entrassem para o grupo, não posso considerar o feito como exemplo moral de liberação/libertação das mulheres, digno de homenagens. É-me impossível realizar algum  liame entre Maria Bonita e o significado do dia 8 de março, que valoriza a mulher ética, guerreira que ama, que luta e que morre em defesa dos seus direitos, pois este ato de heroísmo servirá de esteio para combater as opressões vindouras.

Não obstante, se ao meu olhar seja a "bela Maria Bonita" considerada uma criminosa, nada justifica a forma cruel com que se deflagrou a sua execução. Após Lampião ser atingido gravemente, Maria Bonita também o foi e, neste estado, arrastou-se até o companheiro suplicando que o poupassem. Em resposta, um dos soldados arrastou-a pelos cabelos e degolou-a viva. Sua cabeça pendeu, presa ao pescoço e o corpo foi colocado em posições afrontantes para o escárnio dos demais soldados. O próprio assassino descreveu friamente como separou do corpo a cabeça de Maria Bonita: "Depois de cortar a cabeça, que até tive que bater no osso, saiu muito sangue, e eu enfiei o dedo dentro do tutano que tinha e barriei tudo, que era de um branco danado."*** As cabeças do casal expostas ao público, em estado de putrefação, ofendeu o respeito à dignidade humana, princípio que possui suas raízes plantadas no Direito Natural.

O tema é fascinante, ainda que nos relembre época negra vivenciada em solo brasileiro.





*** A citação, capturada na Internet, sobre a morte de Maria Bonita, exponho num breve trabalho histórico, que se encontra em andamento.

Rio de Janeiro, 8 de março de 2011 - 3h47.