Barbárie
Quem disse que modernidade é sinônimo de maturidade coletiva? Quem disse que ficou para trás o tempo do “olho por olho, dente por dente”? Quem disse que a barbárie é coisa da Idade Média?
Em pleno século 21 ou novo milênio (para ser ainda mais futurista), o lado bárbaro do ser humano não só está se manifestando cotidianamente nos centros urbanos do mundo inteiro (pequenos, médios e grandes), como está sendo registrado por um aparato de câmeras profissionais e amadoras.
A todo instante surgem tantos casos de brutalidade que é impossível não sentir vergonha de ser humano. Pelo menos é o que sinto a cada nova notícia que expõe as bestialidades de que somos capazes.
Só para exemplificar algumas recentes, cito a do homem que se apresentou no último domingo (27/02) à Polícia Civil de São Paulo como um dos assassinos do estudante universitário Júlio César Grimm Bakri, 22 anos. Quatro dias antes a vítima e seu colega Christopher Akiocha Tominaga, 23 anos, foram alvos da fúria de dois atiradores, que chegaram ao bar onde estavam e dispararam vários tiros contra eles. Christopher continua internado, com risco de morte. O suspeito disse à Polícia que atirou porque os dois estudantes teriam “mexido” com sua namorada.
O outro episódio aconteceu em Porto Alegre no dia 25. Um motorista atropelou deliberadamente dezenas de ciclistas que participavam de um evento promovido pelo movimento Massa Crítica, que propõe um trânsito menos violento e uma cidade mais compartilhada. Testemunhas e as imagens gravadas por um cinegrafista amador revelam que o motorista acelerou o carro em cima dos ciclistas, que foram lançados para cima como peças de um dominó enfileirado. Na segunda-feira (28) ele compareceu a uma Delegacia de Polícia, acompanhado por um advogado, argumentando que “agiu em legítima defesa para garantir a sua integridade física e a de seu filho de 15 anos.”
O terceiro exemplo ocorreu na manhã do dia 28 em Embu-SP, onde uma educadora foi brutalmente assassinada quando chegava para trabalhar. Várias testemunhas disseram que, assim que a professora de Educação Física se preparava para entrar na escola, um homem se aproximou e disparou dois tiros pelas costas, atirando mais uma vez assim que ela se virou. A vítima, que estava de licença maternidade e tinha voltado para o trabalho 15 dias antes, deixou um filho de 7 meses. O criminoso fugiu na carona de um carro diante de várias crianças e adolescentes, que ficaram em estado de choque.
Minha perspectiva de Bem e Mal é um tanto maniqueísta, ainda que de uma forma menos ingênua e simplista. De qualquer maneira, ela é embasada em nosso livre-arbítrio, em nossa capacidade de escolher os caminhos que desejamos trilhar. Nos três exemplos mencionados os agressores tiveram a chance de optar em não agredir suas vítimas. Eles tinham consciência do mal que seus atos causariam não apenas aos seus alvos, mas a todas as pessoas ligadas a eles.
Em todas as épocas da história da humanidade temos registros das nossas atrocidades contra a natureza e contra nossos semelhantes. Infelizmente, não acredito que tenhamos chegado à era da maturidade espiritual. Coletivamente, ainda carregamos o mesmo espírito bárbaro de nossos ancestrais.