O único que sabe que vai morrer

Em meio à enxurrada de notícias que a cada minuto inunda os principais sites do gênero no mundo, algumas merecem uma longa pausa para reflexão. Na última segunda-feira uma manchete arrebatou a minha curiosidade e me levou a querer saber detalhes da história por trás dela: “adolescente planeja o próprio funeral após câncer raro”.

Trata-se de uma daquelas tragédias que comovem e entristecem por se tratar de algo que pode acontecer a qualquer um. A britânica Donna Shaw, de 17 anos, foi diagnosticada há um ano com Sarcoma de Ewing, uma forma rara de tumor ósseo maligno, que atinge principalmente crianças e adolescentes.

Após passar por uma cirurgia que retirou 80% do tumor principal em seu braço esquerdo, a jovem fez um tratamento de quimioterapia, mas no início do ano recebeu a notícia de que os remédios não estavam funcionando e que o câncer havia se espalhado. Ela, então, se convenceu de que teria pouco tempo de vida – constatação que, como era de se esperar, provocou ira, revolta e, por fim, aceitação. É o que disse à imprensa a sua mãe Nikki Parker.

De forma surpreendente, Donna Shaw começou um processo de preparação para o fatídico momento que, embora não saiba exatamente quando, ela acredita que não tardará. A adolescente já escolheu cada detalhe do seu funeral, a exemplo das cores das flores e das músicas que gostaria que fossem tocadas. Há, ainda segundo sua mãe, um vídeo que a garota quer que seja exibido no dia.

Entrevistada pela Rede BBC, Donna resumiu o seu estado de espírito da seguinte forma: "não tenho medo de morrer. Tenho medo de deixar minha família. É duro não saber quando vou morrer, mas eu sou uma lutadora. Tenho uma sobrinha que vai nascer em abril. Então, ainda vou estar por aqui até lá."

Essa história me remeteu a mais óbvia das constatações: o ser humano é o único animal que sabe que vai morrer. No entanto, a sua vida segue em frente respaldada pela maior aliada que temos: a esperança. Por normalmente não sabermos a hora exata da partida, esperamos sempre por dias melhores ao longo de nossas jornadas.

Tudo o que fazemos, temos e queremos só faz sentido quando a esperança continua acesa. Afinal, quem continuaria a sua rotina, muitas vezes estafante e desinteressante, se descobrisse que o mundo acabaria em uma semana? O cantor e compositor Paulinho Moska, na canção “O último dia”, levanta a questão.

Diante de tragédias como a de Donna Shaw surge a vontade de renovar essa chama que aquece a alma e nos impulsiona a querer sugar, a todo instante, o melhor da existência. Pena que pouco pensamos nisso, preferindo, na maioria das vezes, perder tempo com intrigas vazias, ambições mesquinhas, desencontros com o que (quem) de fato importa. Difícil saber o que se passa na cabeça dessa adolescente, mas certamente ela tem uma oportunidade ímpar de se ater ao que realmente vale a pena.