Tributo à Cora Coralina

Depois de ler o livro “Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais”, de Ana Lins dos Guimarães Peixoto Bretas, conhecida em todo o país pelo pseudônimo de Cora Coralina, pude perceber as suas qualidades como poetisa. Cora Coralina (20 de agosto de 1889 - 10 de abril de 1985) era uma mulher simples, com muita imaginação para as letras. Escrevia com sabedoria os seus poemas. Tinha muita sensibilidade.

Sabe-se que Cora Coralina estudou até a 3ª séria do antigo primário; e que aos 14 anos escrevia textos e os publicava em jornais da cidade. Era autodidata, pois não seguia nenhuma corrente literária. A poesia de Cora Coralina é objetiva, descritiva, sentimentalista, filosófica, sem recursos da linguagem, mas rica em detalhes; é uma poesia universal, social, que nunca será ultrapassada.

(Na poesia, na maioria das vezes, saber expressar os sentimentos é mais importante que a forma fixa de poemas, de versos rimados e medidos. Daí o surgimento do movimento modernismo, que tem como características versos livres, termos e formas coloquiais etc, que dão ao poeta ou escritor mais liberdade na criação.)

Cora Coralina nasceu em uma época difícil, em que era difícil estudar e evoluir na vida. Uma época em que a mulher não podia votar nem trabalhar fora; e tinha uma única missão que era gerar filhos, ser dona de casa. “Ainda tinha a má sorte de ser pobre”, dizia Cora em um de seus poemas. Cora era triste e frustrada por não conseguir publicar os seus livros.

Em 1910 Cora se casa com o advogado Cantídio Tolentino Bretas, com quem no ano seguinte vai morar do Estado de São Paulo, nas cidades de Avaré, Jaboticabal e capital; teve 06 filhos: Paraguaçu, Enéias, Cantídio, Jacinta, Ísis e Vicência, ainda viva. Ao ficar viúva, passou a vender livros para a editora José Olimpio. Retornando passados 45 anos para a cidade de Goiás, se tornou doceira para se sobreviver. Morou até o último dia de sua vida em uma casa simples às margens do Rio Vermelho, casa esta que foi transformada num museu em sua homenagem.

Cora por ser conhecida na cidade como poetisa, foi descoberta por professores da Universidade Federal de Goiás, que interessarem pelo seu trabalho. No livro Poema dos Becos de Goiás e Estórias Mais há um notório agradecimento da autora: “Ao Dr. Tarquinio J.B. de Oliveira – padrinho e animador desta publicação. Foi quem, baixando um dia, em Goiás, tirou este livro do limbo dos inéditos. A ele, minha oferta e meus agradecimentos”.

O poeta Carlos Drumont de Andrade, maior nome no modernismo brasileiro, que gostava de ler os textos de Cora, certa vez disse que Cora Coralina era a pessoa mais importante do Estado de Goiás, o que foi uma surpresa para muitos que não a considerava. Foi um elogio muito importante de um ícone da poesia, que a consagrou em todo o país. Em uma carta dirigida a Cora em 1983, Drumont manifestou: "Minha querida amiga Cora Coralina: Seu "Vintém de Cobre" é, para mim, moeda de ouro, e de um ouro que não sofre as oscilações do mercado. É poesia das mais diretas e comunicativas que já tenho lido e amado. Que riqueza de experiência humana, que sensibilidade especial e que lirismo identificado com as fontes da vida! Aninha hoje não nos pertence. É patrimônio de nós todos, que nascemos no Brasil e amamos a poesia (...)." Hoje, muita gente reconhece que Drumont estava com a razão.

Cora Coralina publicou três livros: Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais, em 1965; Meu Livro de Cordel, em 1976, e Vintém de Cobre – Meias Confissões de Aninha, em 1983. Foi reconhecida em vida pelo seu trabalho literário. Em 1983 foi eleita intelectual do ano, contemplada com o Prêmio Juca Pato concedido pela União Brasileira dos Escritores, com o livro Vintém de Cobre – Meias Confissões de Aninha. Portanto, Cora é uma grande representante da literatura brasileira, com certeza.

Alonso Rodrigues Pimentel
Enviado por Alonso Rodrigues Pimentel em 14/02/2011
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