A BATUTA DO JOÃO E O PINCEL MÁGICO DA CLAU
João Carlos Gandra da Silva Martins ou simplesmente Maestro João Carlos Martins.
Claudette Corpo ou simplesmente “Clau” como é conhecida e chamada por seus amigos no meio artístico. Eu a trato carinhosamente pelo seu primeiro nome: Claudette.
Dois seres humanos ímpares. Duas criaturas maravilhosas. Dois grandes mestres na arte de viver.
Aqui falo destas duas pessoas maravilhosas porque nelas me espelho para continuar minha trajetória como músico, artista, como poeta escritor que tenho a pretensão de ser e sobre tudo, como ser humano. Como verão adiante são merecedores de muito mais.
Não sei se eles se conhecem pessoalmente. Provavelmente um já tenha visto o outro em algum lugar, pois ambos estão na mídia, em diversos blogs no Google e no Youtube. Por meu turno eu conheço os dois
O João através da imprensa escrita, falada e televisada. Já o vi dezenas de vezes. Acompanho o seu consagrado e merecido sucesso, bem como a sua saga. Tudo a distância. Ele certamente nem imagina que eu existo. Isto, porém não muda em nada a minha admiração, o meu carinho e respeito por ele.
Já a Claudette conheço há anos. É minha amiga querida, com quem tive o privilégio de tocar, acompanhando-a por diversas vezes ao meu violão. Convivi com a sua arte de pintar, sua linda voz de soprano e seu incansável espírito guerreiro, lutando pela vida, não obstante a sua deficiência. Algum de vocês, meus queridos leitores, certamente não faz idéia de como é difícil à gente depender de outras pessoas para quase tudo. Principalmente para uma mulher nos momentos mais íntimos, quando precisa usar o banheiro. Não é mole não, como diria o poetinha Vinicius de Morais.
Aproveito para deixar bem claro que sou manifestamente contra esta besteira de tratar o deficiente como “portador de necessidade especial”. Posso fazer isso. Sou pai de uma criança linda e muito especial sim, não por ser deficiente, mas porque é um ser humano. A minha querida e amada filha Cynthia Harumi é deficiente auditiva. Sem diminuí-la absolutamente em nada, como tal a tratamos. Porém com todo carinho e amor do mundo. Entendo que é assim que precisamos e devemos agir.
Sobre essas duas personalidades, João, com sua batuta regendo uma orquestra de forma brilhante, arrancando nossos aplausos e Claudette com seu pincel mágico na boca, transportando para as telas imagens lindas e inesquecíveis, não é necessário que eu me alongue nas suas biografias e trajetórias de sucessos. Quem não os conhece e queira os conhecer basta entrar na internet, acessar o Google ou o Youtube, pesquisar e navegar a vontade, pois encontrarão inúmeras informações sobre as mesmas, desde os seus nascimentos até o presente instante. Nas livrarias, nas casas especializadas em CDs e nas diversas exposições que acontecem por São Paulo, Capitais e interiores, com certeza tem muito material sobre os dois talentosos artistas.
Nesta modesta matéria pretendo ressaltar de forma sucinta, porém compreensível, toda grandeza dessas duas almas abnegadas, que lutam diuturnamente não só pelas suas sobrevivências, mas para mostrar ao mundo como se deve comportar o homem diante dos obstáculos. Sem reclamar das suas deficiências, ambos nos mostram que Deus nunca nos desampara. Que a vida tem que continuar. E para isso é necessário ir à luta, com muito amor no coração.
Enquanto no mundo, milhares de cidadãos que tem seus corpos perfeitos e sadios usam suas mãos e indicadores em ris ti para promover e proclamar desavenças, discórdias e guerras entre pessoas, estados e nações, bem como empunham armas para assaltar, estuprar e ceifar vidas sem dó e nem piedade, essas duas criaturas de Deus, que não tem os seus corpos e membros tão perfeitos como os nossos, os usam para praticar a caridade, a benevolência e o amor.
O João após ficar com as mãos paralisadas por motivo de doença, impedido assim de tocar seu piano, mas estudioso e dedicado à música como a vida inteira sempre foi e é, não se intimidou e nem parou no tempo. Tratou logo de se reciclar, estudar e tornar-se um exemplo de maestro. Melhor do que tudo: Ele é brasileiro.
Tem a sabedoria dos grandes. Seu comportamento perante a sociedade é exemplar e digno de elogios. Seu bom humor, sua mansuetude e perseverança nos inspiram sempre. O seu perfil e desempenho quando exercendo o seu trabalho, isto é, tocando ou regendo, é para a gente motivo de alegria. Uma benção de Deus. Vendo-o se apresentando, como eu particularmente já o vi, nós músicos ficamos “babando” como se diz popularmente. Tenho pra mim que ele é reencarnação de algum desses monstros sagrados da música. Alguém tocou BAH igual ou melhor do que o João?.
Com a sua batuta nas mãos transmite aos seus músicos e a todo um povo a arte do amor e da vida.
Por sua vez, a Claudette que até os quatro anos de idade era uma linda criança, sadia e perfeita, contraiu a poliomielite. Por conta disso tornou-se deficiente. Ficou com os braços e pernas totalmente atrofiados. Mesmo assim estudou e tornou-se uma mulher batalhadora. Ela também não parou no tempo. Nunca ficou só à espera de socorro ou da caridade dos outros. Batalhou e batalha muito.
Por onde a Claudette passa derrama amor e esperança. Seus finos lábios sustentam com segurança e precisão os seus pincéis que produzem os mais lindos quadros que os nossos olhos podem ver. Eu como sou um desses privilegiados já vi e bem de perto. Aliás, garanto que alguns milhares de outras pessoas também já viram.
Sua voz de soprano, mas aveludada, muitas vezes nos fez chorar. Não de tristeza, mas de emoção e alegria. Sobre isso, outro amigo, o jornalista e ícone da poesia Guarulhense, Castelo Hanssen, escreveu e publicou no Diário de Guarulhos [antigo Olho Vivo] uma matéria intitulada “A boca que nos fez chorar”. Foi na primeira edição do jornal após o show de encerramento do I Congresso Internacional da Cultura realizado nas dependências do prédio da antiga fábrica da Philipis aqui em Guarulhos. Acho que foi em 2003 ou 2004.
Naquela noite memorável emocionou-nos a todos cantando a canção Amigos para Sempre. Casualmente, na oportunidade eu era quem a acompanhava ao violão.
No local estavam presentes mais de 1.500 pessoas, as quais como que por encanto, instintivamente como num passe de mágica, deram-se as mãos e cantaram junto o estribilho "Amigos para sempre é o que devemos ser na primavera ou em qualquer das estações..." e choraram copiosamente emocionadas ao ouvi-la. Eu, com toda experiência de músico viajado, naquela noite fiquei como que esgazeado. Do palco o que eu vi jamais me sairá da mente. Nunca havia visto coisa igual até então. Um festival de lenços ao mesmo tempo enxugando lágrimas de emoção, alegria e ternura.
Navegando na internet num dia desses revi a minha amiga Claudette. Claro, quando posso, vez ou outra ligo para ela, o que eu vou fazer do que há pouco, assim que terminar de escrever essa matéria. O João eu o ouvi na sexta feira p. passada, quando deu uma longa entrevista aos repórteres da Rádio Bandeirante-AM no programa Manhã Bandeirante apresentado pelo Luiz Datena. Desta forma, relembrando-os, achei que deveria deixar registrada esta homenagem em forma de crônica.
Até porque falar sobre essas duas feras, exemplos vivos de vida foi facílimo. Para as mesmas nada mais tenho do que elogios a tecer. Dizer que são meus ídolos também é apenas "um lugar comum”.
Por fim, nada mais tendo a pedir a Deus, pois já me deu muito mais do que sou merecedor, peço em favor daqueles que realmente precisam. Todavia, contudo, ainda ouso rogar ao Pai Criador uma chance de, enquanto ainda encarnado nesse Planeta Terra, eu possa ver o maestro João Carlos Martins regendo uma orquestra, acompanhando a minha cantora favorita Claudette Corpo. Se a música fosse Alegro cantante para uma cidade, [um choro com tendências Bachiana da minha autoria] então seria o máximo do máximo. Minha glória total. Creio que se um dia isso pudesse acontecer não seria eu o único ser a regozijar-se. Talvez uma nação inteira.
Clementino, poeta e músico de São Sebastião – SP/BR. Guarulhos, 06 de fevereiro de 2011.
Nota do autor:
Já falei com a Claudette por telefone e a deixei a vontade para comentar, criticar, discordar, excluir ou inserir nesse texto outras informações que entenda conveniente.
Então através do comentário que aqui fez, ela me informou que é conhecida carinhosamente por “CLAU” no meio artístico. Por isso eu modifiquei o texto, nele inserindo essa informação, bem como outras que julguei procedente. Nesse mesmo diapasão abro o espaço para o meu ídolo JOÃO CARLOS MARTINS, em querendo se manifestar. Afinal, são os personagens da crônica.