FOTOGRAFIA

Vi a cidade de cima para baixo e de baixo para cima. Vi os becos quase sem saídas, vi a vida sendo negada na revelação intensa do filme do cotidiano. Qual cotidiano? A vida de milhares de pessoas que têm em comum a insegurança e a falta de perspectivas.

Fotografei com as lentes do olhar, o rosto da fome, a casa do medo e os olhares sem brilho das filhas e filhos da injustiça social.

Fotografei os buracos, os barrancos, os casebres e os labirintos da dor que consome, que nem fome, feita desespero...

Mas esta fotografia é tão comum! Por que revela-la? Porque existe a necessidade que, clama no peito, de dizer que as cidades precisam ser humanas em suas políticas públicas, humanas na ação dos seus gestores, humanas na ação dos seus moradores. E para serem humanas, é fundamental que não sejam tão desiguais.

Concentração de renda, que gera concentração de pobreza, que gera violência, que gera morte, que gera desamor.

Vi a cidade com as lentes da consciência e da indignação. Consciência? Quando ela rareia, a vida vira filme de terror, a vida se transforma em horror. Indignação? Tem que gerar ação consciente.

Eu sou a cidade, a cidade é você. A cidade somos nós!

A cidade é polis, a cidade é sua história, a cidade é a sua gente!

A cidade é seu passado, a cidade é seu presente que precisa ser convertido num futuro mais justo e mais decente: para todo o seu povo, para toda a sua gente!

Fotografei a cidade e revelei a vida marcadamente ameaçada pelas guerras, herança do Bush, pela guerra do “rush” da sobrevivência...

Mas ainda existe saída se as cidades sonham e pensam.

Nossas cidades, cidades dos homens, das mulheres, das crianças, dos jovens, dos senhores e senhoras que fazem a vida dar certo...Nossas cidades, cidades dos homens, mulheres, crianças, jovens, senhores e senhoras que jogam o lixo nas ruas, que entopem os bueiros, que descartam seus entulhos nos canteiros centrais e calçadas...

Nossas cidades, nossas culturas e nossas diversas maneiras de ser, viver e conviver...Quem as governam e quem as desgovernam somos nós - eu e você! Quando cuidamos bem dos nossos quintais e das nossas maneiras, hábitos e atitudes, estamos fazendo uma boa governança, mesmo que alguns gestores de plantão promovam incertezas e ruínas, desrespeito e imoralidade a frente das gestões das nossas cidades.