15- CRONICANDO: JÁ FOI TARDE

JÁ FOI TARDE

Tenho saudade da minha infância, e olha que nem faz tanto tempo que a perdi não sei onde. Foi a fase mais rápida da minha vida.

Buscando agora na minha mente me lembro de quando tinha apenas uns três a quatro anos. Estava eu cantando uma música da rainha dos baixinhos (ainda bem que nessa idade nossos amigos não nos criticam por nossos gostos musicais). Antes disso não me recordo de mais nada.

Fui um menino normal e sadio, isso na versão da minha mãe, pois certo dia eu encontrei o meu antigo cartão de vacina e, no verso estava escrito: a criança já desenvolveu sarampo, catapora, bexiga e dengue, fui quase um “Zé meningite”, personagem daquela letra de samba.

Acho que eu fui o último remanescente da era da inocência. Não, nunca chamei palavrão. Não sabia que podíamos mais do que apertar a mão de uma menina. Quando, numa cena de novela rolava um beijinho, minha mãe dizia, “ELES ESTÃO BRIGANDO”, e como aprendi que brigar é coisa feia... Fiquei sem “brigar” até os 16 anos.

Bem, o motivo de toda essa minha inocência foi, além de ter pais extremamente zelosos, a igreja. Cresci numa e depois fui para outra. E mesmo entre os meninos da igreja , eu era diferente.

Era estranho a começar pelo penteado. Era a minha mãe que me penteava (e me pentou por muito tempo), era o estilo “a vaca lambeu”.Depois vinha a minha roupa. Claro que ela não me vestia, mas dava aquela “ajeitadinha”, para o filho não parecer um “maloqueiro”. E essa “ajeitadinha” era colocar a calça acima do umbigo e combinar tênis com calça social. PERFEITO. E quando era festa? Ela fazia questão de tirar fotos para a posteridade (até hoje a minha namorada não viu essas fotos).

A minha mãe foi (e ainda é) superprotetora. Praticar esporte? Nunca. Eu poderia me machucar me quebrar todo. Hoje tenho amigos que são faixa preta em judô e karatê. Eu? Nem jogar bola podia.

Brincar na rua nem pensar. Não podia me misturar com as crianças incrédulas. Só podia brincar com as crianças da igreja, mas como eu morava a uns 50 quilometro da igreja, não tinha com quem brincar.

Rapaz... Pensando direitinho, ainda bem que a minha infância passou logo.

George Itaporanga
Enviado por George Itaporanga em 19/01/2011
Reeditado em 24/11/2022
Código do texto: T2737853
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