Após sessão de fisioterapia aguardava o meu filho na parte térrea do prédio na Barra da Tijuca. Sentei-me, para ficar mais confortável.
Foi então, que uma jovem se colocou na direção do meu olhar. Nem alta e nem baixa, cabelos escuros. Curtos ou compridos? Não sei, porque estavam presos atrás da cabeça. Vestia roupa um tanto quanto larga - talvez, por confortável - de brim cinza escuro. Calça comprida e uma blusa cheia de botões à frente. Sem decote, sem charme. Não fosse a cor triste, pela forma lembraria uma roupa de palhaço. Calçava tênis pretos, quase cobertos pela barra da calça. Com um pouco mais de atenção percebi enfeite singelo aos cabelos e uma pulseira no braço direito. Únicos detalhes femininos. Bonita, mas não sorria. Uma cor amorenada cobria sua pele jovem, sem marcas. Rugas? Talvez as trouxesse na alma... A expressão silenciosa da sua face pareceu-me impenetrável. Alegre ou triste, impossível saber. Posso somente afirmar que era visível a distância alcançada pelos seus pensamentos.
Robotizada. Movimentos repetitivos. Para a direita e para a esquerda, para a direita e para a esquerda, para a direita e para a esquerda... E o esfregão verde azulado ia de lá para cá, de lá para cá, de lá para cá... incansável... Ao movimento suave daqueles braços, dançava no chão, aparentemente feliz, cumprindo o seu dever... deixando tudo branquinho! Alheio ao meu olhar.
Qual a razão daquela moça ter-me chamado a atenção, não sei... Talvez tenha sido aquela dor incômoda na coluna o que me fez desejar, por instantes, trocar de lugar com ela... Ofereceria meus sapatos femininos, minha roupa de tecido bom, meu perfume... tudo o que me cobria o corpo, em troca daquela facilidade de balançar os braços para lá e para cá, para lá e para cá, para lá e para cá... Só de pensar, doía.
A moça era bonita, mas a roupa muito feia! Minha roupa era bonita, mas a dor muito mais feia do que a roupa feia da moça bonita!
Rio de Janeiro, 16 de setembro de 2010 - 20h47