Herois de nada

Cada vez é mais difícil surgir um heroi mundial, um representante da força e da superação, um porta-bandeira dos oprimidos, um Ayrton Senna do Brasil ou um Mahatma Gandhi, tanto faz. O “cara” de hoje é o maluco que criou o facebook, ou o cara que dedou a diplomacia americana com o wikileaks, ou mesmo a Lady Gaga, que está arrebentando, mesmo. Ela também é “o cara”.

Definitivamente, o espaço não é mais o mesmo; ele foi tomado de súbito por essa onda de bizarrices, protagonizada por mentes da informática, cantoras soltinhas e sem pudor, além da massiva luta contra o preconceito, pela qual infelizmente subentende-se que se deve amar tudo, pois que achar algo ruim é ter preconceito, para essas cabeças. Desastres naturais, guerras sanguinolentas, professores humilhados, etc. Ou seja, é catastrófica a situação porque ligamos o jornal e nos damos conta de que não há notícias boas; apenas catástrofes mesmo, então é catastrófico.

Bem; enquanto há mentes infantes há procura de produzir algo que possa ter um sentido para alguém, em algum lugar, há gênios dormentes levando muito a sério uma visita ao traficante, cortando caminhos para fugir da polícia. Muitos tantos fazem palhaçadas e vomitam nas câmeras, alcançando com isso status e fama efêmeros, mas, ainda assim, status e fama. Pior: há quem se julgue representante de uma geração inovadora no estilo de se viver; destes, o mundo está cheio. São os muitos tantos herois membros de uma irmandade universal da qual fazem parte milhares, milhões deles; herois sem ordem hierárquica, movidos pelos mesmos interesses de urgência e não-solidão; em busca de sensações repentinas e encantadas, fantasiosas; sensações brilhantes na pressa, cruéis na partida. E é possível que esse que escreve também faça parte ao grupo; mais pelo lado social de fazer parte querendo ou não, do que pelo lado do interesse. E é possível que você, que lê esse escrito, também.

Não há mais critérios, não existe mais controle; a liberdade é o fim último e a expressão é qualquer uma, ou melhor, todas. Não importa como, o importante é ser importante. É vencer na vida, é subir nas cabeças, é ter conta no exterior, é vender discos, é propagar sorrisos e mais sorrisos venenosos, de quem olha na cara aponta o dedo e ri de escárnio de quem consome. E todos nós consumimos.

E, ainda assim, somos herois. Mas somos tantos que não cabemos todos no Olimpo, ao lado dos deuses, nossos irmãos. Na era do invencível, um se acoca no outro e todos se acocam de joelhos, querendo aparecer pelo menos no cantinho da foto, só para dizer que fez sua parte. Sucesso!

Girardello Filho
Enviado por Girardello Filho em 17/01/2011
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