Gol-de-Letra
A discussão da vez era o gol-de-letra. A disputa acalorada envolvia apostas de todo tipo! – Quer saber? Não cabia mais torcedores no Belenenses. E o balcão ensopado de cerva era a marca da cal. Que naquele comprido carrára se decidia no grito – às vezes regado a cuspi - aquela jogada. Dessa vez a controvérsia era definir que letra as pernas do jogador desenhava na execução do gol-de-letra.
A maioria apostava na letra X ou na i – essa última minúscula, aquela com as duas perninhas enroscadas! Meia-dúzia de gatos pingados, entretanto, insistia na letra e... Enfim, a confusão tava posta, no Belenenses do Seu Joaquim – o portuga.
Dionísio, um banguense doente, cambaleante e tropeçando nas letras arriscou:
- Caralhambolas! Isso é discussão de bê-ba-do – e a seguir fuzilou -... de bê-ba-do num tem dono? E esse bla-bla de gol-de-letra num tá escrito em livro nenhum?
- Tá sim! Tá na enciclopédia dos craques de bola... Somente os fora-de-série! Pena que, hoje, nenhum deles esteja vivo. - Respondeu Nilton.
A essa altura do campeonato, toda área do Botequim Belenenses tava com o meio-de-campo embolado. Puxa-vida! Não cabia mais ninguém naquela gritaria. E a letra i levava uma boa vantagem nas apostas... Creio que não haveria necessidade de prorrogação ou morte súbita!
Foi nesse instante que Beleléu – um flamenguista doente e irrecuperável – mais pra lá do que pra cá embarreirou:
- Duvido que tenha algum fora-do-sério ainda vivo...
Todas as torcidas rolaram no chão do Belenenses de tanto rir... De repente, uma nova aposta surgia e a discussão agora era: tem ou não tem algum jogador fora-de-série vivo
O gol-de-letra agora não tinha tanta importância e dinheiro tomou outra direção: tem ou não tem? Foi quando Zequinha - um americano roxo - lá dos fundos do botequim berrou:
- Lembrei. Tem sim...
- Ca-ra-lham-bo-las! Quem? - Gritou o Dionísio.
E se utilizando do recurso tira-teima, Zequinha gritou:
O rei. E de bate-pronto arrematou: - Pelé!