Esses Dom Pedritos Primeirinhos!...
Concluí meu ‘Curso Primário’ (antigos 1º ao 4º ano, hoje 1ª a 5ª série do ensino fundamental) no Grupo Escolar Cordovil Pinto Coelho (agora Escola Estadual do mesmo nome) e claro, guardo lembranças felizes daqueles primeiros anos de estudante. Algumas engraçadas.
Relembrando recentemente em conversa com minha irmã caçula alguns desses episódios, veio-me à mente um que há muito não recordava:
Naquela época as escolas ainda reverenciavam o Dia da Independência do Brasil, o dia sete de setembro, acho que todos se lembram, né? Quando D. Pedro deu aquele grito revoltado (alguns exageram e dizem até que ele estava histérico), lembrou?
Então, eram desfiles magistrais pelas principais ruas das cidades, e aqui na pequena Manhuaçu, não era diferente:
Carros alegóricos primorosamente elaborados, bandeiras, coreografias, pirâmides olímpicas, todos os componentes de um belo desfile cívico, tendo no comando o som das sempre garbosas e afinadíssimas fanfarras.
Num desses ‘Sete de Setembros’ de minha infância, não me lembro o ano, aconteceu um divertido episódio:
Dona Magnólia (a Diretora, que todos chamavam de Dona Noly) comandava nervosa a formação da fila para o lanche de reforço, que as escolas distribuíam antes do desfile, para que "os alunos aguentassem o sol quente e desfilassem direitinho, animados e coradinhos, e, Deus nos livre, sem nenhum desmaio no momento do evento".
Era divertidíssimo. A garotada exaltada e em espantoso burburinho, entrávamos na ‘fila do pão com molho’ umas três a quatro vezes, porque minha gente, eu vou falar uma coisa: o ‘pão com molho’ daquelas cantineiras da época eram qualquer coisa assim de celestial; usavam massa de tomate, sal e alho, cebola, pimentão, cheiro verde e carne moída, mas eu até hoje suspeito que dessa receita escondiam um pequeno segredo, vindo diretamente das mesas do Olimpo, tanto era delicioso o tal ‘pão com molho’.
E era ainda acompanhado do maravilhoso Ki-Suco de uva, que as cantineiras colocavam com pedras de gelo dentro dos filtros de barro, para que nós passássemos em fila enchendo os copos, o que fazíamos umas cinco ou seis vezes; eram dois copos do régio néctar (Ki-Suco de uva) para cada porção de divino manjar (pão com molho).
E assim estávamos naquele Dia da Independência, a se esbaldar com o lanche, mas como sempre, um pouquinho atrasados.
E lá vinha Dona Noly com as sobrancelhas torcidas para o centro, quase se juntando acima dos olhos, e berrando para que todos tomassem seus postos, e passando pelotões de um lado para o outro conforme o tamanho dos componentes; e tão atarantada e atrasada estava que nem passou em revista os meninos dos pelotões vestidos com os uniformes comuns, do dia a dia da escola, dando prioridade às meninas da coreografia, à fanfarra, aos alunos dos carros alegóricos, etc.
E chegou o tão esperado momento do desfile:
A fanfarra tocando garbosa, as meninas da frente rodando suas balizas e girando os bambolês, os alunos com traje de gala fazendo alegorias com as bandeiras dos estados, os ‘atletas’ da pirâmide já se aquecendo aos saltos.
E o desfile transcorria tranquilo, com seus fabulosos carros alegóricos, suas fantásticas coreografias, a estonteante pirâmide humana, as tremulantes bandeiras, e lá no finalzinho, os meninos com o uniforme da escola, passando em frente ao palanque, com os peitos esticados, orgulhosos, e acenando sorridentes para a atônita e consternada Dona Noly, que mal acreditava naquele bando de Dom Pedritos Primeirinhos com suas barbas ruivas de molho de tomate e seus fartos bigodinhos roxos de Ki-Suco de uva...
Concluí meu ‘Curso Primário’ (antigos 1º ao 4º ano, hoje 1ª a 5ª série do ensino fundamental) no Grupo Escolar Cordovil Pinto Coelho (agora Escola Estadual do mesmo nome) e claro, guardo lembranças felizes daqueles primeiros anos de estudante. Algumas engraçadas.
Relembrando recentemente em conversa com minha irmã caçula alguns desses episódios, veio-me à mente um que há muito não recordava:
Naquela época as escolas ainda reverenciavam o Dia da Independência do Brasil, o dia sete de setembro, acho que todos se lembram, né? Quando D. Pedro deu aquele grito revoltado (alguns exageram e dizem até que ele estava histérico), lembrou?
Então, eram desfiles magistrais pelas principais ruas das cidades, e aqui na pequena Manhuaçu, não era diferente:
Carros alegóricos primorosamente elaborados, bandeiras, coreografias, pirâmides olímpicas, todos os componentes de um belo desfile cívico, tendo no comando o som das sempre garbosas e afinadíssimas fanfarras.
Num desses ‘Sete de Setembros’ de minha infância, não me lembro o ano, aconteceu um divertido episódio:
Dona Magnólia (a Diretora, que todos chamavam de Dona Noly) comandava nervosa a formação da fila para o lanche de reforço, que as escolas distribuíam antes do desfile, para que "os alunos aguentassem o sol quente e desfilassem direitinho, animados e coradinhos, e, Deus nos livre, sem nenhum desmaio no momento do evento".
Era divertidíssimo. A garotada exaltada e em espantoso burburinho, entrávamos na ‘fila do pão com molho’ umas três a quatro vezes, porque minha gente, eu vou falar uma coisa: o ‘pão com molho’ daquelas cantineiras da época eram qualquer coisa assim de celestial; usavam massa de tomate, sal e alho, cebola, pimentão, cheiro verde e carne moída, mas eu até hoje suspeito que dessa receita escondiam um pequeno segredo, vindo diretamente das mesas do Olimpo, tanto era delicioso o tal ‘pão com molho’.
E era ainda acompanhado do maravilhoso Ki-Suco de uva, que as cantineiras colocavam com pedras de gelo dentro dos filtros de barro, para que nós passássemos em fila enchendo os copos, o que fazíamos umas cinco ou seis vezes; eram dois copos do régio néctar (Ki-Suco de uva) para cada porção de divino manjar (pão com molho).
E assim estávamos naquele Dia da Independência, a se esbaldar com o lanche, mas como sempre, um pouquinho atrasados.
E lá vinha Dona Noly com as sobrancelhas torcidas para o centro, quase se juntando acima dos olhos, e berrando para que todos tomassem seus postos, e passando pelotões de um lado para o outro conforme o tamanho dos componentes; e tão atarantada e atrasada estava que nem passou em revista os meninos dos pelotões vestidos com os uniformes comuns, do dia a dia da escola, dando prioridade às meninas da coreografia, à fanfarra, aos alunos dos carros alegóricos, etc.
E chegou o tão esperado momento do desfile:
A fanfarra tocando garbosa, as meninas da frente rodando suas balizas e girando os bambolês, os alunos com traje de gala fazendo alegorias com as bandeiras dos estados, os ‘atletas’ da pirâmide já se aquecendo aos saltos.
E o desfile transcorria tranquilo, com seus fabulosos carros alegóricos, suas fantásticas coreografias, a estonteante pirâmide humana, as tremulantes bandeiras, e lá no finalzinho, os meninos com o uniforme da escola, passando em frente ao palanque, com os peitos esticados, orgulhosos, e acenando sorridentes para a atônita e consternada Dona Noly, que mal acreditava naquele bando de Dom Pedritos Primeirinhos com suas barbas ruivas de molho de tomate e seus fartos bigodinhos roxos de Ki-Suco de uva...