O ÚLTIMO DENTE

 

Estou com o rosto inchado. A causa? A minha boca resolveu parir mais um dente. Ainda bem que tenho uma barba farta que dá para disfarçar.

Mas não é qualquer dente. Sabe aquele último? Sim! Aquele depois de todos, que o chamamos de dente da razão, o dente do juízo, ou simplesmente, “dente queiro” (pelo menos aqui na Paraíba as pessoas o chama assim), pois bem, está nascendo um depois dele. Ou pelo menos era o que eu achava.

 

Preocupado fui a um dentista aqui perto. Ele examinou e me deu os parabéns: “Você agora faz parte do seleto grupo dos hiperdentário. Tem gente que nasce com doze dedos nas mãos, duas bocas (lá na China isso é comum). Você nasceu com dentes além do normal.” (Sim, eu e os tubarões!!!).

—Ainda bem que é só um!.

—Infelizmente não. Irá nascer até não haver mais espaço!

—Na gengiva?

—Não, na boca!

—Aaai meeeu Deeeus!!!! Tanta gente desdentada no Brasil (estatísticas apontam que mais de 50 por cento da população está desdentada), e eu vou ficar com dente até na língua??

—Não exatamente! (Isso geralmente que dizer o contrário.)

—Não exatamente?

-Sim, eles nascem, mas depois caem.

—Hum...

—Caem, mas nascem outros no lugar.

—Que é isso? Minha boca vai se tornar uma fábrica de dentaduras, uma incubadora de dentes, é isso?

—Infelizmente pouco posso fazer. Mas, o recomendado é extrai-lós, e como você é aqui do bairro, darei um desconto. (acho que ele estava pensando que a minha boca seria o seu pote de ouro).

 

Fui procurar outro odontólogo no dia seguinte. Foi tudo diferente. Descobrir que não existe nenhum grupo dos hiperdentário (existem sim!) Para minha surpresa o diagnóstico foi totalmente diferente e, para meu espanto, este meu dente que está nascendo é realmente o meu siso, o juízo. E, confrontando o diagnóstico do dentista anterior, eu não iria perder nenhum dente e muito menos outros iriam nascer além do último.

 

Até hoje fiquei me perguntando o porquê daquele dentista ter feito isso comigo, me dando um diagnóstico falso. Mas a resposta não demorou. Agora a tarde havia um carro do CRO, e da PF na porta do consultório do dito cujo. Ele era na verdade um araque de dentista. Foram para prendê-lo, O vigarista estava andando de estado em estado aplicando golpes nos pacientes.

 

Ainda bem que fui procurar uma outra opinião.

 

 

George Pedro Barbalho

 

George Itaporanga
Enviado por George Itaporanga em 17/12/2010
Reeditado em 28/03/2023
Código do texto: T2677813
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