Bodas de ouro
Cinquenta anos, como o tempo passou depressa!
Engraçado, quando temos quinze, queremos fazer logo dezoito, e achamos que o tempo não passa nunca. Entramos na casa dos vinte e aí é uma alegria infinda. É tanta agitação, que quase não dá tempo para perceber que estamos rabeando os trinta. De repente eles chegam e dá um enorme susto na gente. Mas, sinceramente é só um susto mesmo! E lá vamos nós enfrentar a vida novamente. O casamento, que a essa altura já chegou, o trabalho que fica cada vez mais sério, mais pesado e com mais responsabilidades, os filhos... Ah, os filhos! Esses sim, fazem-nos perder os cabelos. Perder, não! Branquear! Ainda bem que inventaram um tal xampu colorante. Mas de repente, natal daqui, ano novo dali, comemoração em família, filha fazendo quinze anos... E chegam os quarenta! Puxa vida! Aí sim, tomamos um belo susto! Depois das comemorações, de despedir o último retardatário do churrasco, corremos para o banheiro. Esticamos daqui, levantamos dali... Incrível como encontramos tantos sinais, que “não estavam ali antes”. Procuramos aquele creme milagroso que vimos no comercial e que nunca temos tempo de usar. Percebemos no pote, a data da validade já expirando. Nem mesmo nos preocupamos com o preço caríssimo que pagamos por ele. Prometemos que dali em diante, iríamos tirar um tempinho para “cuidar de nós”.
Mais uma arrancada! A vida retoma seu eixo, ainda mais agitada que antes. O tempo ficou maluco! O relógio da cozinha nos apressa já no café da manhã. E são tantas coisas, que já não nos sobra tempo para espreguiçar, ler um livro ou encontrar amigos.
Os filhos entram num emaranhado de compromissos que passam a ser nossos também: Vestibular, faculdade, mudanças, uma decide se casar... Ai meu Deus! Onde acudo primeiro? Os dias passam. Não, definitivamente os dias voam. Dezembro está tão perto de novo! Já é
Natal?? Os anos também voam.
Um belo dia, alguém canta: Parabéns pra você! E um infeliz pergunta: Quantos anos? Respondemos mecanicamente, cinquenta! Aí, acordamos! Como num desenho animado. Cinqüenta?? Pôxa! Assim de bandeja? Que tempo mais ingrato, nem avisou para não sentir tanto. Definitivamente não tivemos tempo para nós. Outros cremes venceram... Mas o tempo foi implacável, chegou pontualmente, e aqueles cinqüenta soam constantemente em nossas mentes. Agora a vida já não é tão corrida assim. Os filhos já estão encaminhados.
Começamos a olhar para trás, e a lembrar...
Encaramos os cinquenta anos com a responsabilidade de resgatar, o que passou tão despercebido. Lembranças tantas... A infância, a escola, a casa de assoalho, as mangueiras, o laranjal... Os irmãos. Por que as famílias hoje são tão pequenas? Nossos pais, hoje velhinhos... A juventude, os amigos, o parque que vinha para a cidade e que tocava A praça, de Vanderlei Cardoso, e outros... Quantos suspiros! Coisas tão boas e tão puras que deixamos lá atrás... O primeiro amor... O primeiro beijo... O susto de ter beijado, o medo de engravidar...
Ah, que tempo mais doce!
Fazer cinquenta anos pode ser um divisor de águas. É olhar pra trás, recordar, deixar cair uma lágrima e, decidir-se: A vida não termina aqui! Desejar viver intensamente um futuro sem pressa e sem tantos compromissos. Usufruir das horas quentes de verão, ou frias e aconchegantes do inverno, dos dias, dos anos e do tempo como um parceiro e não como um algoz.
Manter as recordações boas. As ruins, que certamente tivemos, devem ser engavetadas, bem guardadas e só lembradas parta tirar lições de vida para viver melhor o presente e o futuro.
Maria Helena Camilo