LEMBRANÇAS...

 

Saindo da aula, resolvi descansar num dos bancos da praça dos Três poderes. De repente, um senhor senta-se ao meu lado e lança no ar a seguinte expressão: João Pessoa, terra de putaria.

 

Olhei de relance para ver quem estava falando assim, era um ancião, com aproximadamente uns setentas anos e vestido com a camisa do Botafogo da estrela vermelha.

 

E não parou por ai. Começou a dissecar a sua frase com um tom nostálgico de quem vivera uma vida dessas “putarias”: “Já viajei esse Brasilsão de meu Deus quase todo, mas não troco esta terra por nenhuma outra. Lugar bom. Tem de tudo que se precisa. E ainda guarda esse ar provincial, interiorana...

 

“Mas, sabe do que eu mais gosto?” Perguntou ele olhando para o céu com um olhar saudosista. “Gosto das mulheres.” E continuou: “Quando eu tinha a sua idade ( na época eu tinhas uns 17 anos) e estava entediado, ia relaxar nos braços das mulheres da vida. Dava uma voltinha lá pela rua da Areia que tudo melhorava. Havia mulheres. E não pense que era como hoje. As profissionais tinham classe. Lingerie rendadas. Maquilagem impecável, e, o desejo de saciar os nossos insaciáveis desejos.

 

A primeira coisa que fiz quando completei a maior idade foi ir para um famoso cabaré, A Casa de Irene. Ali não entrava qualquer um, não. Era a alta boemia da cidade e do Estado.

Na Maciel Pinheiro, a Casa 66, também tinha o seu luxo . Era a casa de Hosana. Eu estava lá na inauguração. Imagine só. Um rapazote escondido de mamãe. Meu único medo era encontrar o meu pai por lá, suspeito eu , que também estava escondido de mamãe.  Na inauguração foi convidado o cantor Nelson Gonçalves. Foi um belíssimo baile. Só a nata da nata.

 

O Ponto de cem reis era outro lugar frequentadissímo. Você acredita que aqueles bancos tinham mais de cem anos? Nunca houve uma reforma ali, e, era tudo bem conservado. Quanta história... Na minha juventude...Ah se aquelas árvores, se aqueles bancos, se aqueles becos falassem... Eu estudava ali na faculdade de direito. Era só terminar as aulas que eu corria para os braços do amor (sexo). Hoje, esse prefeito resolveu reformar tudo. Só está faltando acontecer uma chacina para se chamar a Praça da Paz Celestial Pessoense.

 

Sabe onde fica o beco da Misericórdia? Pois bem, certa vez levei uma namoradazinha para lá, e cometi um enorme erro, a confundi com um dos meus amores noturnos. Imediatamente ela me repreendeu e disse que daquele jeito não namorava. Era moça de família. A danada mentiu. Hoje é uma das personalidades da sociedade paraibanas mais rodada que guarda chuva na mão de dançarino de frevo. Quase que a peguei.

 

E na festa das Neves? Aquilo era uma festa. Hoje não. É uma festa morta. Na minha época era a maior festa da região. Alegre. Viva. Um prato cheio para rapazotes. Numa das edições dessa festa, anos 60 eu conheci a Margaret. Quente, com os seus cabelos de fogos. A amei. Gozamos amores noite adentro... Um dentro do outro. De repente desapareceu. Colegas me contaram que um marinheiro a havia a assumido e a levou embora, mas fiquei com as Madalenas, Herodias e Salomé e as traidoras Dalilas...

 

É seu Antônio Duarte (sei do seu nome porque outro senhor passou no momento da conversa e assim o chamou) foi uma juventude bem agitada a sua. Gozou os prazeres da vida literalmente. E eu que só fui passar o tempo sentado na praça sai com uma estória para uma crônica. Valeu.

 

 

George Barbalho
Enviado por George Barbalho em 18/11/2010
Reeditado em 06/09/2024
Código do texto: T2623216
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