DIA DA PROCLAMAÇÃO DA REPÚBLICA

Prof. Antônio de Oliveira

aoliveira@caed.inf.br

Renato Russo perguntou “Que país é esse?” E ninguém, até hoje, respondeu satisfatoriamente. República proclamada, constituição promulgada, mas “o Estado nunca se vê”, diz Mia Couto, que conclui com desânimo: “Por essas e por outras é que eu me pirei desse mundo em que o Estado nunca se vê, mas aparece sempre a tirar-nos as nossas coisas”. O escritor Affonso Romano de Sant’Anna relança, em 2010, uma coletânea de poemas intitulada Que País é Este? cuja primeira edição data de 1980, trinta anos atrás, certamente entendendo que continua atual o cunho de crítica política e social.

Sem entrar no mérito, aqui, do que foi feito e do que está por fazer, causa pena, pena mesmo de dor que, ao falar de “res publica”, no Dia da Proclamação da República, nos acorram as palavras de Manuel Bandeira, em Estrela da Vida Inteira: "Desânimo... Desesperança... Desalento..." É que somos condescendentes com o cancro da corrupção que impunemente mina sempre mais o organismo nacional, por muito que se faça de positivo.

Em 1534, o rei de Portugal loteou o Brasil em quinze lotes denominados capitanias hereditárias. Historicamente, apenas duas capitanias prosperaram. No entanto, essa forma de governar criou raízes no nosso imaginário a ponto de formar um inconsciente coletivo e, desde então, sucedem-se ininterruptamente os capitães-mores. E a mentalidade, generalizada, vai desde o flanelinha que controla feudos de estacionamento, passando por traficantes que controlam pontos de tráfico. E o cidadão comum, entre dois fogos, tem que se virar, impotente, nessas capitanias cujos donatários só pensam em defender e expandir o seu espaço, exatamente como El-rei o fizera, aqui, com a adoção das capitanias hereditárias. Hoje, só o governo federal pode lotear, por indicação política, 25000 titulares de cargos públicos (contra 100 na Inglaterra, por exemplo). Além disso, depende do Executivo a liberação de recursos para emendas parlamentares.

Voto de cabresto ainda é uma realidade, dependendo do tipo de aliciamento que corrompe também os partidos políticos, trampolins que se alternam em nome da governabilidade de acordo com as circunstâncias e os interesses partidários e particulares. Nessa última campanha para presidente do Brasil, falou-se de tudo e de todos, mas muito pouco de propostas para governar o País. E mesmo essas propostas, quando apresentadas, frequentemente eram apresentadas como um mote, mas sem um norte, umas pegando carona em outras, sem uma visão de conjunto, sem uma fala identificadora dos reais problemas brasileiros, de norte a sul, de leste a oeste.

No filme nacional Tropa de Elite 2, o comandante de polícia (Wagner Moura) tenta conciliar sua vida pessoal com a profissional a partir do momento em que descobre que o sistema, representado, no caso, pelo poder público instalado e enraizado, pode estar a esconder o verdadeiro inimigo responsável pelo encadeamento de atos de corrupção sistemática e sistêmica. Vale conferir.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 15/11/2010
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