O CRUZEIRO DO PONTAL

Maria Célia Fonseca Morais*

A religiosidade do povo é uma característica marcante em Minas Gerais. Sendo a cruz um dos símbolos mais fortes do cristianismo é muito comum visualizarmos um cruzeiro plantando no alto de uma serra. Alguns têm histórias centenárias.

Perto da Vila Romana, em Divinópolis, numa montanha próxima ao terreno de Cesário Alves de Araújo, existe um que foi o próprio Cesário (Cesarinho) meu avô materno quem pediu licença ao seu amigo vizinho de terreno, o senhor Chiquinho Gontijo, para instalá-lo ali. Isso se deu em 03/05/1940, quando Frei Odulfo van der Vat ofm foi celebrar missa na Fazenda do Pontal, residência de meus avós. Após a missa, foram todos até à montanha para a bênção do cruzeiro. Nesta ocasião, tia Marieta estava muito mal em Belo Horizonte e chegou a falecer alguns dias após, em 16/06/40.

Atualmente, o governo proibiu colocar cruzes, dessas pequenas que indicam acidentes fatais, à margem de rodovias. Talvez, para esconder a vergonha, ou desleixo mesmo, da má conservação de estradas. Também, se não fosse a legislação em vigor, nossas estradas seriam verdadeiros cemitérios.

Castro Alves se expressou em versos a dor das famílias vitimadas:

“Caminheiro que passas pela estrada.

Seguindo pelo rumo do sertão,

Quando vires a cruz abandonada,

Deixa-a em paz dormir na solidão!”

Quando a terra estava muito seca, precisando de chuva, e a Folhinha Mariana registrava a sua demora, Chica, uma pessoa simples e analfabeta, que morava na casa de minha avó, chamava a todos nós, crianças ainda, para fazer-lhe companhia até o cruzeiro a fim de pedir chuva. Falava com grande dificuldade e nós entendíamos o que ela dizia. Às vezes, quase precisávamos de um audio-som...

Muitas vezes e muitas vezes fomos ao cruzeiro com a Chica.

Levava um balde com água e nós, as flores silvestres que ela mesma nos arrumava.

Ali, rezávamos, cantávamos e logo, logo descia, como uma bênção, a chuva.

Maria Célia é minha irmã que autorizou-me a publicação desta crônica.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 15/11/2010
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