VIVENDO A NATUREZA DE VERDADE
O momento de contato direto
com a natureza é inesquecível
Em 2002 participei de uma experiência emocionante, que recomendo a qualquer pessoa: o contato direto com a natureza. A gente das cidades – pessoas que esbarram umas nas outras em grandes avenidas, fugindo de carros em disparada e assaltantes em cada esquina – muitas vezes esquece que o mundo não é só isso, que a vida em seu estado bruto, pleno, ainda pode ser encontrada. Um momento de contato absoluto com a natureza faz de qualquer homem um ecologista.
Naquele ano, visitei o manguezal de Itambi, na cidade de Itaboraí – Região Metropolitana do Rio. A menos de 40 quilômetros da capital, cercada por veios de poluição que partem das cidades vizinhas (onde moram quase 2 milhões de pessoas), o manguezal fica na chamada Área de Proteção Ambiental de Guapimirim. São quilômetros de mangue, vários pontos bem preservados, outros já muito poluídos pelo despejo de esgoto. Eu escreveria um roteiro para um documentário, que nunca saiu do projeto, e o texto sobre uma exposição fotográfica.
O mais incrível é que, por mais de 10 anos, eu morava bem próximo do manguezal de Itambi, por quase cinco anos fui assessor de imprensa da Prefeitura e nunca me dera ao trabalho de visitar o local. Mangue me trazia à mente o cheiro de peixes podres, sujeira, árvores mergulhadas no lodo ... Naquele dia, entrei no barquinho com o medo natural de quem não sabe nadar e é alérgico a mosquitos, mas o meu preconceito com relação ao mangue morreu num piscar de olhos.
Um dos mais fascinantes ecossistemas, nesse caldeirão de vida que é o planeta Terra, o manguezal é uma região em que o encontro das águas doces dos rios com a água marinha cria condições de vida muito especiais. O solo inundado e com baixa concentração de oxigênio abriga plantas que utilizam raízes aéreas para retirar o oxigênio que necessitam do próprio ar. Um celeiro de espécies, que vão desde crustáceos e peixes, até aves migratórias que encontram por lá o seu sustento.
Itaboraí, desde cedo – muito antes de Cabral e seu descobrimento – já tinha sido abençoada por esta beleza natural. Os rios que deságuam na Baía de Guanabara abrigam uma população de peixes exuberante e, mesmo com os séculos de poluição desenfreada em virtude do crescimento populacional, continuam belos. Um passeio de barco em suas águas é, para o cidadão comum, um momento inesquecível de absoluto contato com a natureza, pois as paredes de vegetação às margens nos deixam isolados dos sinais de civilização. Melhor assim ...
No entanto, para a população que há dezenas de anos vive da exploração da pesca e dos caranguejos, o contato com a natureza é a rotina diária – que começa muito cedo, ainda na infância, e segue por todos os anos de vida produtiva. Com o caranguejo, que para eles é muito mais que um produto, os catadores têm uma relação de amor e ódio – sua vida é caçá-los e capturá-los para a venda, mas é preciso preservá-los, para que o sustento dure por mais muitos anos. Tanto o caranguejo, por ser um animal pouco acostumado à convivência e que se defende com toda a garra, quanto o catador de caranguejo – um exemplar clássico da força do homem perante o meio – sofrem pelo preconceito, e lutam para sobreviver.
Entrar em contato com o mangue faz pensar sobre essas coisas – o quanto o homem é capaz de se adaptar ao meio ambiente, e, por outro lado, consegue moldar o meio à sua maneira – destruindo o que a natureza levou bilhões de anos para criar em, talvez, mais duas gerações. Foi nesse exuberante ecossistema que o fotógrafo Sandro Giron encontrou a surpresa e a maravilha da vida, surgindo da lama como o homem do barro. O olhar atento e sensível do fotógrafo registrou o tempo, que parece mais lento por aquelas bandas, e reuniu nesta exposição o cenário e os personagens do incrível teatro da vida.
Eu, que não tenho habilidade com uma câmera, mas insisto em lutar com as palavras, repito aqui o que escrevi para a apresentação da exposição, àquela época: “é a natureza bem no seu quintal, enquanto você assiste ao Globo Repórter, na sala de casa”. Vivemos a era do conhecimento virtual, ficamos em casa vendo documentários ecológicos pela TV ou pesquisando na Internet, quando pode ser tão fácil viver a natureza de verdade.
O momento de contato direto
com a natureza é inesquecível
Em 2002 participei de uma experiência emocionante, que recomendo a qualquer pessoa: o contato direto com a natureza. A gente das cidades – pessoas que esbarram umas nas outras em grandes avenidas, fugindo de carros em disparada e assaltantes em cada esquina – muitas vezes esquece que o mundo não é só isso, que a vida em seu estado bruto, pleno, ainda pode ser encontrada. Um momento de contato absoluto com a natureza faz de qualquer homem um ecologista.
Naquele ano, visitei o manguezal de Itambi, na cidade de Itaboraí – Região Metropolitana do Rio. A menos de 40 quilômetros da capital, cercada por veios de poluição que partem das cidades vizinhas (onde moram quase 2 milhões de pessoas), o manguezal fica na chamada Área de Proteção Ambiental de Guapimirim. São quilômetros de mangue, vários pontos bem preservados, outros já muito poluídos pelo despejo de esgoto. Eu escreveria um roteiro para um documentário, que nunca saiu do projeto, e o texto sobre uma exposição fotográfica.
O mais incrível é que, por mais de 10 anos, eu morava bem próximo do manguezal de Itambi, por quase cinco anos fui assessor de imprensa da Prefeitura e nunca me dera ao trabalho de visitar o local. Mangue me trazia à mente o cheiro de peixes podres, sujeira, árvores mergulhadas no lodo ... Naquele dia, entrei no barquinho com o medo natural de quem não sabe nadar e é alérgico a mosquitos, mas o meu preconceito com relação ao mangue morreu num piscar de olhos.
Um dos mais fascinantes ecossistemas, nesse caldeirão de vida que é o planeta Terra, o manguezal é uma região em que o encontro das águas doces dos rios com a água marinha cria condições de vida muito especiais. O solo inundado e com baixa concentração de oxigênio abriga plantas que utilizam raízes aéreas para retirar o oxigênio que necessitam do próprio ar. Um celeiro de espécies, que vão desde crustáceos e peixes, até aves migratórias que encontram por lá o seu sustento.
Itaboraí, desde cedo – muito antes de Cabral e seu descobrimento – já tinha sido abençoada por esta beleza natural. Os rios que deságuam na Baía de Guanabara abrigam uma população de peixes exuberante e, mesmo com os séculos de poluição desenfreada em virtude do crescimento populacional, continuam belos. Um passeio de barco em suas águas é, para o cidadão comum, um momento inesquecível de absoluto contato com a natureza, pois as paredes de vegetação às margens nos deixam isolados dos sinais de civilização. Melhor assim ...
No entanto, para a população que há dezenas de anos vive da exploração da pesca e dos caranguejos, o contato com a natureza é a rotina diária – que começa muito cedo, ainda na infância, e segue por todos os anos de vida produtiva. Com o caranguejo, que para eles é muito mais que um produto, os catadores têm uma relação de amor e ódio – sua vida é caçá-los e capturá-los para a venda, mas é preciso preservá-los, para que o sustento dure por mais muitos anos. Tanto o caranguejo, por ser um animal pouco acostumado à convivência e que se defende com toda a garra, quanto o catador de caranguejo – um exemplar clássico da força do homem perante o meio – sofrem pelo preconceito, e lutam para sobreviver.
Entrar em contato com o mangue faz pensar sobre essas coisas – o quanto o homem é capaz de se adaptar ao meio ambiente, e, por outro lado, consegue moldar o meio à sua maneira – destruindo o que a natureza levou bilhões de anos para criar em, talvez, mais duas gerações. Foi nesse exuberante ecossistema que o fotógrafo Sandro Giron encontrou a surpresa e a maravilha da vida, surgindo da lama como o homem do barro. O olhar atento e sensível do fotógrafo registrou o tempo, que parece mais lento por aquelas bandas, e reuniu nesta exposição o cenário e os personagens do incrível teatro da vida.
Eu, que não tenho habilidade com uma câmera, mas insisto em lutar com as palavras, repito aqui o que escrevi para a apresentação da exposição, àquela época: “é a natureza bem no seu quintal, enquanto você assiste ao Globo Repórter, na sala de casa”. Vivemos a era do conhecimento virtual, ficamos em casa vendo documentários ecológicos pela TV ou pesquisando na Internet, quando pode ser tão fácil viver a natureza de verdade.