DIA DA CRIANÇA

Prof. Antônio de Oliveira

aoliveira@caed.inf.br

Hoje, Dia da Criança (dia, um modo de dizer), deparo com uma criança de dez anos. E digo: só dez anos!... Quase onze? Digamos dez, que a vida logo se encarregará da adição. Nessa idade, o tempo só lhe levou, a essa criança, até hoje, dez aninhos. Ou, redondo, uma dezena de anos. Dez anos ainda podem ser contados, de uma só vez, e sem fração, nos dedos das mãos. E aí, matematicamente, nem o mindinho é menor que outro qualquer. Nesse caso, os dedos são iguais: dez dedos iguais a dez anos, dez anos iguais a dez dedos. Não é assim, não foi sempre assim, nessa calculadora de dez dígitos incorporada, encarnada em nossas mãos? É só dobrar um dedo de cada vez.

Dez anos, como dez dedos, é fração: dez dedos, membros da mão; dez anos, fatia de tempo. E desse bolo não se vende em fatias numa confeitaria. Compra-se um bolo inteiro para comemorar fatias que se vêm juntando para formar, com o tempo e no tempo, sobretudo no tempo, o grande bolo da vida. Bolo esse, caseiro, que a gente é que faz, produz, ao jeito de cada pessoa, nem sempre ao gosto de todos os comensais, convidados ou penetras.

E o tempo é também assim como uma árvore. À medida que cresce, a árvore vai aumentando a sua sombra até não poder mais ser medida no palmo. Uma criança de dez anos tem apenas dez anos de sombra medidos no tempo.

Ixe! O tempo é como um bicho-papão, esse monstro imaginário que com o tempo se criou para, com um saco na mão, pegar inocentes crianças mentirosas e fazer sabão. Com o tempo, esse papão papa também os dias de quem faz esse tipo de terrorismo: dia e noite, não apenas nas noites sem luar, invade, sorrateiramente, o organismo de todo mundo, roubando-nos a fantasia do espírito e levando, de pinga, nossa alma de criança. E ficamos velhos.

Mas é possível não envelhecer, desde que se mantenha a alma de criança de dez anos, idade que estamos tomando como referência. Ter dez anos de idade ou viver como se dez anos tivéramos, significa ainda sermos capazes de apreciar a natureza, o riacho, os pássaros, as árvores. O mundo irracional.

E mais: do alto de oito vezes dez anos, isto é, aos oitenta anos, ele, entre pasmo e curioso, ela, entre curiosa e pasma, observar o mundo livre, o mundo dos adultos, aparentemente sem conserto, gerador e produtor de ódios e guerras, produtor de máquinas bélicas para despertar e alimentar o ódio.

Uma criança de dez anos ainda é atenta aos contadores e leitores adultos, em voz alta, de estórias e de histórias dos outros porque ainda tem ouvidos de ouvir, tem história curta, está na introdução de sua biografia terrestre. Ainda sabe ouvir, hábito que o adulto nem sempre conserva. Meu caro adulto, use a calculadora dos dedos das mãos e conte até dez. No Dia da Criança, lembre-se de quando você tinha... dez anos. Dez anos que não voltam mais. Mas, contemple-se numa criança de dez anos e, nesse espelho, sinta-se feliz.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 07/10/2010
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