MENINA!
- Fátima Irene Pinto -
Onde foi parar o teu pudor?
Hoje mal se te despontam os seios e já conheces todos os segredos de um erotismo que não é da tua idade. Deverias ainda estar brincando!
Tua inocência deveria estar preservada!
Tão cedo ainda e as bonecas se misturam com batons e esmaltes carmins. Já começas a deixar os lábios e cabelos rubros, a pensar numa edição de fotos.
Não são fotos de formatura ou do teu baile de 15 anos. São fotos onde ostentas prematuramente a sensualidade de um corpo que mal se formou!
Que estranha escala de valores é esta que te faz pensar que, posar nua na PlayBoy é um feito heróico, nem que para isto tenhas que posar nua como uma fêmea no cio em jornalecos e revistas de quinta?
Onde está tua mãe que não te fala de recato?
Onde está teu pai que não te fala de pudor?
Menina! Não havia ninguém para dizer-te que a beleza da juventude deveria ser destinada ao amor de um homem bom, que a beleza saudável do teu ventre deveria abrigar o fruto de um amor compartilhado?
Ao ver-te, Menina, em tão franca decadência, escancarada em vergonhosas poses nos jornais de quinta, ao ver-te tão equivocada e tão convícta de que estás fazendo estrondoso sucesso, que ser "femme fatale" é o sonho máximo do teu coração,
já não sei de quem sinto mais pena.... se de ti ou se do mundo.
Será que haverá lugar para mães no futuro?
E como têm sido as mães do presente, as que te levam para fazer o primeiro book
com olhos gananciosos nos prováveis contratos milionários, sem nem perguntar se este sonho é também o teu?
Que sociedade é esta que assim te prefere? Que homens são estes que assim te requisitam? Por certo, os mesmos que friamente irão te enxotar quando a tua exuberante mocidade mostrar os primeiros sinais de declínio.
Fecho o jornal e por um momento penso nas palavras "lar, família" e sinto algo apertar-me o coração como se fôssem palavras arcaicas de um tempo igualmente arcaico que se esvai, sem que no lugar não tenha restado nada ...
a não ser murcha e desbotada flor.