Últimas palavras de um moribundo

Hoje, deixarei o Lulla, a Dilma e seus seguidores inconsequentes em paz. Garanto ao leitor, já um tanto saturado de más notícias sobre essa gente desqualificada, que, daqui para frente, nada comentarei a respeito desses vis personagens. A promessa, todavia, somente terá validade para esta crônica. De amanhã em diante, não deverei me abster do enorme prazer de citar-lhes os nomes e os malfeitos.

Por ser homem de palavra, cumprirei o prometido. Portanto, não será necessário que o leitor, enjoado do assunto, abandone o texto, temeroso de se deparar com comentários desagradáveis e repetitivos. Pretendo, nesta oportunidade, contar-lhe a história de Takuku Nakara, um japonesinho residente em São Paulo.

Nakara chegou ao Brasil há poucos anos. Ele quase nada falava em português; entendia as conversas expressando-se por mímica, a linguagem dos surdos-mudos. Radicado no bairro da Liberdade, onde mantinha próspero comércio de produtos eletrônicos, trabalhava diuturnamente. Era um sujeito pequeno, de poucas palavras, mas de muita ação.

Durante o dia, acompanhava o desempenho dos vendedores, sempre acenando para os clientes com movimentos repetidos da cabeça, baixando-a e elevando-a em sincronia com o tórax levemente inclinado; acompanhava esse detalhe, a expressão: “bom né?”, seguida de largo sorriso. À noite, depois de fechar as portas da loja, ele passava em revista os negócios realizados, examinava o estoque, fazia anotações, arrumava a vitrina, e lá pelas vinte e duas horas, subia ao primeiro andar, onde residia com a mulher e os filhos. Antes de dormir, bebia displicentemente duas ou três doses de saquê, degustando finas fatias de salmão, embebidas em molho de soja, da marca Sakura.

Essa rotina somente era quebrada às quartas-feiras, quando Takuku Nakara encerrava mais cedo seu longo expediente de trabalho, para assistir aos jogos do timão que, raramente, vencia. Nessas ocasiões, o saquê entornado sem parcimônia era o responsável pelo seu mau humor. Dona Fuxiko, sua adorável esposa, tentava apaziguá-lo, receosa de que forte isquemia reduzisse a irrigação sanguínea e provocasse desastroso infarto. Aliás, a idade do marido beirava o limite crítico para ocorrências dessa natureza. Nakara não se exercitava convenientemente, limitando-se à ioga, conjunto de exercícios sistemáticos que envolvem a postura e a respiração, baseado em ensinamentos filosóficos praticados na Índia, antes de Cristo.

Sempre efetuei minhas compras de produtos eletrônicos na loja desse japonês, cujo defeito, pelo pouco que o conhecia, era torcer pelo Corinthians, agremiação centenária que já me teve como aficionado. Deixei as hostes alvinegras depois de saber que Lulla é seu torcedor.

Não quis misturar-me a elle por nenhum pretexto.

Ih, leitor! Mil perdões, por ter quebrado a promessa feita ao iniciar esta crônica. Garanto que não se repetirá. Não mais citarei aquele maldito nome, até concluir esta história, da qual fui coadjuvante, sem pretensão.

Eis o restante da narrativa:

Takuku Nakara, em viagem automobilística de longa duração pelo interior de São Paulo, sofreu terrível acidente. Levado ao hospital, ali permanecia internado, em doloroso tratamento, quando lhe fiz uma visita de cordialidade, depois de inteirar-me, na loja, do que lhe acontecera. O sofrido nipônico respirava por aparelho que lhe fornecia oxigênio, transportado por uma mangueira de alta pressão. À beira de seu leito, perguntei-lhe, embora o soubesse, pelo seu estado de saúde. Nakara olhava-me com aqueles olhinhos pequenos e rasgados, característicos de sua raça, sem nada dizer. Passados alguns minutos, notei que o enfermo estava inquieto, revirando-se vigorosamente. Com dificuldade, mas audivelmente, dizia: “Sakaro aota nakamy amyoba, sushi mashu-ta”.

Logo depois, morreu.

No dia seguinte, fui ao velório. Apresentei a dona Fuxiko as minhas condolências. Em dado momento, disse-lhe: Nakara, antes de morrer, (depois seria impossível) disse estas palavras: “Sakaro aota nakamy amyoba sushi mashuta”. O que significam?

Dona Fuxiko olhou-me com desprezo e rancor, dizendo: “tire o pé da mangueira de oxigênio, seu filho da puta”.

Não tive a intenção. Acredite!