Se me queres ver nu...

Hoje acordei infinitamente cansado e isso é um pouco mais do que posso suportar. Hoje sentei na varanda e tomei meu café enquanto um beija-flor faceiro tomava o dele em nosso hibisco, e ouvíamos a algazarra dos suiás nos girassóis.

Pensei no que fiz e não fiz desta vida, nos sonhos que plantei e não cultivei. Das conquistas e as cicatrizes das vitórias.

Lembro-me de aos treze anos salvar uma menininha que se afogava no mar, embora eu me recorde pouco dos gritos de sua mãe, pois logo estava a brincar com meus amigos. Que será dessa criança? Que será de mim? Creio que estou velho e a vejo uma jovem radiante.

Ah! Quantas pequenas lembranças permeiam meu cansaço! E como me orgulhava, por exemplo, dos colegas de teatro a procurar-me para abrir seus corações e pedir-me conselhos.

E quantas vezes magoei mamãe Maeli. Incontáveis vezes suas lágrimas pousando em meus sonhos. Lágrimas que me ajudaram a crescer!

Outro dia mesmo encontrei alguém que era meu amigo. É tão esquisito dizer: “era!” Como se a amizade real pudesse ser vencida pelo tempo ou pela distância. Foi apenas alguém que conheci, alguém que passou. A menininha do mar não passa. Permanece uma princesa em minha mente, e assim permanecerá.

São incríveis as imagens dos cãezinhos que já tive! Vejo cada um deles com a mesma alegria com que nos jogávamos na grama a brincar. E meu pai Mário, agora ao lado de Deus. Quantas árvores plantamos juntos meu amigo! O senhor permanece viu? Nas árvores. Em mim.

Hoje acordei infinitamente cansado e feliz. Fiz o que fiz do meu jeito! Minha história é bonita. Minha história é bonita e permanecerá. Talvez nas pequenas lembranças daquela mãe aflita, de algum amigo que não vejo há tempos ou mesmo que não tornarei a ver, mas que me tem consigo em suas pequenas lembranças.

Hoje sentei à varanda e pensei tantas coisas. Minha esposa, amada Luciana beijou meu rosto essa manhã oferecendo-me a maçã que já havia mordido, e rimos como bobos enquanto os cães latiam, pulavam, balançavam suas caldas dizendo: “nós te amamos!”

Hoje acordei e escrevi pra você! As pessoas ficam tão automáticas não é? As pequenas lembranças guardadas no embornal preso ao peito e a gente nem aí!

Queira novas lembranças, pois disto se faz o presente, e não as queira mais embornalar.

Minha história é bonita. Minha história é bonita e permanecerá.