O VELHO E O MAR

Parece até um livro de Hemingway, mas não é.

É a historia verídica de seu Messias, pai de uns amigos. Nascido em Minas, foi conhecer o mar aos oitenta anos.

Homem simples, dizia sempre – “Cês é besta mesmo, quer me convencer que o tal mar é maior que Três Marias e que ainda por cima é salgado... caio nessa não”.

Chegamos em Itaparica à noite e fomos dormir. Pela manhã acordei cedinho só pra ir com ele à praia.

Chegou à beira do mar olhou prum lado e pro outro, ficou extasiado, parecia que aquilo não tinha fim.

Tirou os sapatos e as meias, arregaçou as calças e entrou com a água até os joelhos. Com as mãos em concha bebeu uma porção da água e não acreditou no que sentiu.

Com a cara amarrada voltou e sentou-se debaixo de um pé de manga.

- Quero ir embora pra Brasília, dizia,

- Mas a gente mal chegou, retrucávamos.

Reclamou tanto que resolvemos leva-lo pra embarcar na rodoviária de Salvador.

Passou mal na travessia do Ferry boat, botou as tripas pra fora, como se diz.

Somente meses depois resolveu falar no assunto

- Não vi graça nenhuma no tal do mar....num tem barranco pra pescar igual no Urucuia... a água salgada não dá pra beber... a gente não consegue ver do outro lado... e pra piorar a história, tem aquelas ondas indo e vindo...indo e vindo... indo e vindo... deixam qualquer um tontinho, tontinho...

- Trem mais besta o tal de mar....