Ensinamento precoce

Zezinho era um menino esperto. Muito inteligente. Na escola, destacava-se por ser o primeiro a responder às perguntas da professora. Ele também gostava de esporte e tinha no futebol sua diversão favorita.

Aos cinco anos, era a alegria da família. A todos divertia com questionamentos bem avançados para a pouca idade. Também não era para menos; quando não estava jogando videogame – seu outro divertimento – assistia aos programas de televisão, bem acomodado no colo da mãe, dona Zefinha, assídua espectadora da novela das oito, da rede Globo, e dos programas do Ratinho, do SBT.

Ela não perdia, às tardes, os temas abordados nas tevês de pouca audiência, que tratavam, sem nenhuma inibição, de problemas conjugais, relações afetivas e brigas de vizinhos. A exposição das pessoas ao ridículo fazia as graças de dona Zefinha, mulher de pouco estudo, mas que obtivera do governo em que votara um emprego público sem a exigida frequência ao trabalho.

Depois do almoço, Zezinho tirava uma boa soneca e fazia os deveres escolares; ao término de suas obrigações, saia para brincar nas ruas da vizinhança. No seu tempo, tudo era tranquilo: as pessoas andavam a pé ou de bicicleta, os pais não tinham grande preocupação com a segurança dos filhos, pois os transeuntes eram dotados de boa índole, os veículos automotores, de quantidade reduzida, circulavam a baixa velocidade...

Todos viviam tranquilos.

A avó materna de Zezinho morava na mesma rua onde residia o filho mais velho, pai do seu único netinho. As calçadas largas convidavam as crianças para brincadeiras de variadas modalidades; o garotinho e seus colegas de infância costumavam descer as ladeiras a bordo de carrinhos equipados com rolamentos obtidos em oficinas mecânicas, deslizando macia e velozmente.

Era uma alegria só!

O repertório lúdico dos meninos era variadíssimo: futebol, praticado em animadas “peladas”; pique pega; esconde-esconde e outras atividades como a de contar estórias de aventuras duvidosas.

Certa feita, Zezinho entrou na casa da avó, correndo, quase esbaforido, e perguntou-lhe:

– Vó, como se chama aquilo, em que duas pessoas dormem no mesmo quarto e ficam uma em cima da outra?

Dona Edileusa, uma cearense que nada deixava sem resposta, assustou-se com a pergunta do menino, mas resolveu respondê-la sem meios termos, assim, “na lata”:

– A isso, chamamos de relação sexual. Um divertimento que os adultos, principalmente hoje em dia, exercitam sem parcimônia.

O garoto não conhecia o significado da palavra, traduzida por “ação pouco econômica”, ouvida pela primeira vez. Sem mais querer, retornou à rua, tão rápido quanto chegara. Momentos depois, voltou e disse para dona Edileusa:

– Vó, o nome daquilo que perguntei é beliche!

A matriarca sentiu, naquele instante, que deveria ser mais comedida em suas explicações ao netinho. A verdade, às vezes, deve ser pintada em cores suaves para não despertar a curiosidade ou tirar a inocência infantil tão precocemente.

A mãe de Paulinho, dona Bete, por sua vez, ficou preocupada com futuras explicações que a senhora Edileusa daria ao neto e ao seu filho, frequentador assíduo da casa vizinha.

– Os ensinamentos perversos das ruas já não seriam bastante? – disse Elizabete, para si, um tanto apreensiva.