DIA DO ATOR

(19 de agosto)

Prof. Antônio de Oliveira

aoliveira@caed.inf.br

Cada um representa o seu papel no grande teatro do mundo. “Spectaculum facti sumus mundo...” (1 Cor. 4,9). Assim o apóstolo Paulo, o grande ator dos primórdios do cristianismo, entendia nossa presentação neste mundo. Só lhe faltou cantar “The show must go on”, como Freddie Mercury, do Queen, dois milênios mais tarde. O show continua, deve continuar, tem que continuar.

Com atores profissionais ou saltimbancos improvisados e amadores. Pois é preciso acreditar no show da vida, é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter garra. É preciso ter gana. E eu tenho que encontrar vontade para continuar com o (meu) show: “I have to find the will to carry on with the show”.

“Enquanto o homem vive, está num palco”, disse também, há muito tempo,

o orador romano Cícero. E – detalhe surrealisticamente realista – ninguém pode representar no meu lugar. No meu papel sou sempre protagonista.

Nunca coadjuvante nem mero figurante nem regra-três. No palco de minha existência, sou titular absoluto, desempenhando um papel social, mas pessoal, único e intransferível, na malhação desafiante do dia-a-dia, 24 horas em stand by. Mas não devo, histriônico e monologuista, constituir todo o elenco, centro das atenções, mito idolatrado, tentando roubar narcisisticamente, bloco do eu sozinho, todas as cenas de uma peça tornada, então, uma farsa burlesca.

Lya Luft intitulou um recente ensaio seu de Múltipla Escolha. Aí, o palco é ocupado por um boneco que representa, hoje em dia, o indivíduo condicionado por imposições sociais, mitos e preconceitos. Nessa moldura alegórica aparece, inclusive, o aprisionamento a padrões ilusórios de beleza. Mas, no fundo do palco, surgem alternativas, opções de múltipla escolha ou portas por onde a marionete, com autenticidade e coragem, ainda poderá se libertar de seus manipuladores. Contudo, o teatro do mundo, na verdade, revela outra dimensão: é dentro de nós mesmos que a peça se desenrola e a marionete interpreta, ora cômica, ora lírica, ora dramática, ora tragicamente.

Mas, se hoje é Dia do Ator, o é do ator profissional, daquele que representa em peças teatrais, em filmes, na televisão e em outros espetáculos. Em suma, um comediante, um intérprete, um astro, uma estrela, cuja arte consiste em representar um papel que não é o seu, na vida real, mas que chegue a parecer real, dado o caráter da representação com sentimento criador e naturalidade. Aliás, "quem é mais artista do que o ator?” pergunta Joaquim Nabuco.

O ator é como o poeta (de) Fernando Pessoa: é um fingidor que finge tão completamente que chega a fingir que é dor a dor que deveras sente.

Veja você. Como em época de eleições todo candidato é ator, indague se a dor que ele sente é deveras a dor do povo. Sua voz insistente nos fere o ouvido através da tela do televisor e das ondas do rádio. Sua imagem, produzida, maquiada e retocada, inunda outdoors, páginas de jornal, santinhos, panfletos. Parodiando uma propaganda que diz que é barato pra caramba, talvez tudo isso seja chato pra caramba. Será mesmo esse o palco da democracia?!...

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 18/08/2010
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