EU NÃO ACREDITO EM ASTROLOGIA
Até porque ela não é mula-sem-cabeça,
anjo, gnomo, fantasma ou extra-terrestre ...
Com certa freqüência, quando revelo às pessoas que sou astrólogo, me deparo com dois tipos de reação, com poucas variáveis. A maioria das pessoas fica curiosa e diz algo do tipo: “Que legal! Como é que isso funciona?”. Um grupo menor, com certo espanto (e por que não dizer, decepção) pergunta: “Como é que você acredita nisso?”, sentenciando em uma única frase toda a minha ignorância.
Gosto de falar sobre como a Astrologia funciona – e, não tenho dúvidas, pela experiência de quase vinte anos, ela funciona. O problema é que responder à segunda pergunta é algo que me irrita profundamente. Qualquer astrólogo iniciante sabe que uma pessoa com Lua e Saturno em Áries não é o tipo mais tolerante do universo. Se, além disso, tiver o Sol em Capricórnio, pior ainda. Pois é, eu sou este tipo.
Com a idade, a experiência e a batalha íntima que é viver em sociedade, desenvolvi a capacidade de me distanciar, uma postura quase brechtiniana. Devolvo a pergunta com outra pergunta e provoco o interlocutor, deixando nele uma pulga atrás da orelha. Sei que não é possível convencer pessoas que nutrem preconceito em relação à Astrologia, ou aquelas que por qualquer questão religiosa vêem nela uma artimanha do demônio – a essas, nem dou conversa.
Num último esforço de ser razoável em relação ao assunto, queria deixar claro que a Astrologia não deve ser avaliada no quesito crer ou não crer. Há vários outros temas que aí se encaixam, coisas puramente místicas ou fantasiosas – do tipo simpatias, fantasmas, gnomos, etc. Como você não pode demonstrar sua existência ou eficácia, só apelando para a fé. A Astrologia independe de espiritualidade, religião, intuição ou paranormalidade. É tudo preto no branco: é só calcular, traçar o mapa, conhecer o que cada coisa significa, e tudo bem.
Certa vez, um médico homeopata, colega do meu sogro, argumentou que a Astrologia é uma besteira porque é baseada em “convenções”: o planeta Marte, que recebeu esse nome por ser vermelho, cor do deus da guerra, acabou representando o princípio masculino, o as lutas e tudo mais associado à divindade mitológica, e assim por diante. Segundo ele, as ciências não podem partir de “convenções” que, em última análise, são arbitrárias.
Contra ele usei o seguinte argumento: “Você já viu uma reta?”. Sem entender o porque da pergunta ele respondeu: “É claro!”. Foi a deixa para eu espinafrar a matemática. É óbvio que ninguém viu uma reta, que é algo infinito. Ninguém viu um plano, também infinito. O máximo que o olho humano são “segmentos de reta” e “polígonos”. O ser humano não concebe, de forma lógica, o que é infinito (o universo, Deus, a seqüência numérica, etc) apenas admite (ou acredita) que eles existem – de forma arbitrária.
Além disso, há a relatividade das coisas. Às vezes olhamos um arco e pensamos ser um segmento de reta – a linha do horizonte, por exemplo. Tudo bem, eu aceito a reta e o plano como verdades matemáticas, assim como aceito Deus como verdade espiritual, mas caberia perguntar “Você acredita em Matemática?” só porque a ciência mais exata estabelecida pelo homem parte de princípios arbitrários, como qualquer religião?
Talvez a prima-irmã da Astrologia não seja a Astronomia (que é filha do esforço dos antigos astrólogos caldeus, árabes e gregos), mas a Meteorologia. Em última análise, o princípio das duas é o mesmo: você observa por um longo período um fenômeno e torna-se capaz de antever o comportamento desse fenômeno. A intrincada relação entre correntes marinhas, ventos, marés, poluição, degelo dos pólos, e uma série de fatores, permite que os meteorologistas obtenham um quadro aproximado do clima.
Com a Astrologia, o raciocínio é semelhante. É claro que existem falhas, como naquele dia de chuva que era para ser “ensolarado”, mas a Medicina e a Engenharia também erram, e gente morre por isso. As ciências sociais, como a História, a Antropologia, a Sociologia e a Política, também são capazes de antever o futuro com base em padrões observados no passado.
Na minha avaliação, o que menos importa é estudar uma possível relação de causalidade na Astrologia – do tipo “Marte em Áries causa isso ou aquilo”. A Astrologia trabalha com a sincronicidade de dois fenômenos distintos: os movimentos celestes e a vida humana. Uma coisa não causa a outra, elas apenas acontecem ao mesmo tempo. E há uma relação de probabilidade que deve ser levada em conta, como na Meteorologia. O dia “tende a” ser ensolarado – mas não reclame se chover.
Além disso, não vejo a menor necessidade de que a Astrologia seja chamada de ciência. Ela é, isto sim, um ramo do conhecimento humano, compilado por gerações de pesquisadores (entre eles, algumas das mentes mais brilhantes dos últimos três milênios) e como tal merece respeito.
(Direitos reservados ao autor. Publicado pela primeira vez em 21/04/2005 no blog do autor)
Até porque ela não é mula-sem-cabeça,
anjo, gnomo, fantasma ou extra-terrestre ...
Com certa freqüência, quando revelo às pessoas que sou astrólogo, me deparo com dois tipos de reação, com poucas variáveis. A maioria das pessoas fica curiosa e diz algo do tipo: “Que legal! Como é que isso funciona?”. Um grupo menor, com certo espanto (e por que não dizer, decepção) pergunta: “Como é que você acredita nisso?”, sentenciando em uma única frase toda a minha ignorância.
Gosto de falar sobre como a Astrologia funciona – e, não tenho dúvidas, pela experiência de quase vinte anos, ela funciona. O problema é que responder à segunda pergunta é algo que me irrita profundamente. Qualquer astrólogo iniciante sabe que uma pessoa com Lua e Saturno em Áries não é o tipo mais tolerante do universo. Se, além disso, tiver o Sol em Capricórnio, pior ainda. Pois é, eu sou este tipo.
Com a idade, a experiência e a batalha íntima que é viver em sociedade, desenvolvi a capacidade de me distanciar, uma postura quase brechtiniana. Devolvo a pergunta com outra pergunta e provoco o interlocutor, deixando nele uma pulga atrás da orelha. Sei que não é possível convencer pessoas que nutrem preconceito em relação à Astrologia, ou aquelas que por qualquer questão religiosa vêem nela uma artimanha do demônio – a essas, nem dou conversa.
Num último esforço de ser razoável em relação ao assunto, queria deixar claro que a Astrologia não deve ser avaliada no quesito crer ou não crer. Há vários outros temas que aí se encaixam, coisas puramente místicas ou fantasiosas – do tipo simpatias, fantasmas, gnomos, etc. Como você não pode demonstrar sua existência ou eficácia, só apelando para a fé. A Astrologia independe de espiritualidade, religião, intuição ou paranormalidade. É tudo preto no branco: é só calcular, traçar o mapa, conhecer o que cada coisa significa, e tudo bem.
Certa vez, um médico homeopata, colega do meu sogro, argumentou que a Astrologia é uma besteira porque é baseada em “convenções”: o planeta Marte, que recebeu esse nome por ser vermelho, cor do deus da guerra, acabou representando o princípio masculino, o as lutas e tudo mais associado à divindade mitológica, e assim por diante. Segundo ele, as ciências não podem partir de “convenções” que, em última análise, são arbitrárias.
Contra ele usei o seguinte argumento: “Você já viu uma reta?”. Sem entender o porque da pergunta ele respondeu: “É claro!”. Foi a deixa para eu espinafrar a matemática. É óbvio que ninguém viu uma reta, que é algo infinito. Ninguém viu um plano, também infinito. O máximo que o olho humano são “segmentos de reta” e “polígonos”. O ser humano não concebe, de forma lógica, o que é infinito (o universo, Deus, a seqüência numérica, etc) apenas admite (ou acredita) que eles existem – de forma arbitrária.
Além disso, há a relatividade das coisas. Às vezes olhamos um arco e pensamos ser um segmento de reta – a linha do horizonte, por exemplo. Tudo bem, eu aceito a reta e o plano como verdades matemáticas, assim como aceito Deus como verdade espiritual, mas caberia perguntar “Você acredita em Matemática?” só porque a ciência mais exata estabelecida pelo homem parte de princípios arbitrários, como qualquer religião?
Talvez a prima-irmã da Astrologia não seja a Astronomia (que é filha do esforço dos antigos astrólogos caldeus, árabes e gregos), mas a Meteorologia. Em última análise, o princípio das duas é o mesmo: você observa por um longo período um fenômeno e torna-se capaz de antever o comportamento desse fenômeno. A intrincada relação entre correntes marinhas, ventos, marés, poluição, degelo dos pólos, e uma série de fatores, permite que os meteorologistas obtenham um quadro aproximado do clima.
Com a Astrologia, o raciocínio é semelhante. É claro que existem falhas, como naquele dia de chuva que era para ser “ensolarado”, mas a Medicina e a Engenharia também erram, e gente morre por isso. As ciências sociais, como a História, a Antropologia, a Sociologia e a Política, também são capazes de antever o futuro com base em padrões observados no passado.
Na minha avaliação, o que menos importa é estudar uma possível relação de causalidade na Astrologia – do tipo “Marte em Áries causa isso ou aquilo”. A Astrologia trabalha com a sincronicidade de dois fenômenos distintos: os movimentos celestes e a vida humana. Uma coisa não causa a outra, elas apenas acontecem ao mesmo tempo. E há uma relação de probabilidade que deve ser levada em conta, como na Meteorologia. O dia “tende a” ser ensolarado – mas não reclame se chover.
Além disso, não vejo a menor necessidade de que a Astrologia seja chamada de ciência. Ela é, isto sim, um ramo do conhecimento humano, compilado por gerações de pesquisadores (entre eles, algumas das mentes mais brilhantes dos últimos três milênios) e como tal merece respeito.
(Direitos reservados ao autor. Publicado pela primeira vez em 21/04/2005 no blog do autor)