Essa Gente não Lê

Osvaldo André de Mello*

O vídeo que corre pela internet mostra uma entrevista com Dilma Rousseff. Perguntada sobre qual livro estaria lendo, a queridinha do Lula, dos píncaros da vasta cultura e fina inteligência, atabalhoou, sintonizando as assessoras: “Bom. Livros, né? Eu estou lendo um livro... Tá me pedino... Eu tentei falar um pouco sobre a novela pra ver se eu lembrava o nome do livro. Não lembro. Do Sandro Amalai. O livro chama: A... A... A... Prada. É. Mário Prada. É uma... Talvez uma de... Assim... Me impactou muito. Eu concluí ele ontem à noite rapidinho porque eu consigo ler no domingo.”

O Presidente Lula, do Himalaia de sua infalível sabedoria, sentenciou: “Ler é chato.”

O atual proprietário da Venezuela, Hugo Chávez, leva livros a discursos em praça pública e os mostra e comenta. Presenteou Obama com “As Veias Abertas da América Latina”, de Eduardo Galeano. Um formador de leitores. O ditador Getúlio Vargas espalhou excelentes bibliotecas pelo país inteiro. A nossa primeira biblioteca, doada por ele, instalou-se no Divinópolis Clube, quando casa de cultura da cidade.

Não proponho a leitores ilustres estatística de erros. Mas o atual dono do Brasil, o todo poderoso Lula, que não permite retroação à palavra de rei, seguramente, erraria menos se houvesse lido as obras que referem as características, os problemas do país e as soluções. Por exemplo, “Os Sertões”, de Euclides da Cunha, em cuja primeira parte, A Terra, no capítulo V, o escritor explica “Como se extingue o deserto”. Proposta atualíssima, ultrabarata. Resolve a seca do nordeste. Nada importa, Lula quer porque quer a transposição do Rio São Francisco. Julga-se no direito de recriar a natureza. Afirma messianicamente: “Cumpro a palavra de Deus, dou água a quem tem sede”.

Essa gente não lê. Brinca com a Bíblia. Jamais enxerga ao redor. Espinafra e põe no altar políticos que, ao sabor das conivências e conveniências da politicagem, transitam travestidos de demônios e anjos. Essa gente sem paixão partidária atira a deus-dará. Fogo cruzado, guerra e paz. No meio disso tudo, os brasileiros, levando chumbo grosso merecido. Afinal, brasileiros cegos de memória curta, possuídos da paixão política desprezada pelos peixões, nos conchavos, em benefício próprio, vivem numa suposta democracia e votam em quem quiser. E por falar nisto, há mesmo fraude nas urnas eletrônicas desaprovadas por sólidas democracias mundiais?

***

*Osvaldo André de Mello nasceu em Divinópolis, estudou Artes Cênicas no Teatro Universitário em Belo Horizonte e voltou para Divinópolis, onde se formou em Letras. Sua primeira publicação foi aos dezenove anos, com A Palavra Inicial (1969), e o poeta publicou ainda Revelação do Acontecimento, Cantos para Flauta e Pássaro, Meditação da Carne, e A Poesia Mineira no Século XX, entre outros. No teatro, dirigiu peças de grandes autores, como T. S. Eliot, Nelson Rodrigues e Emily Dickinson. É responsável pela montagem e direção do espetáculo APARECIDA NOGUEIRA IN CONCERT.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 03/08/2010
Código do texto: T2416000
Classificação de conteúdo: seguro