ROUBARAM MEU JEGUE
Acabei de ler um texto do meu amigo Wilson Pereira, que além de achar ótimo, como de costume. Ainda aproveitei o mote, para escrever também sobre o mesmo tema. Apelidos vexatórios.
Não me refiro naturalmente àqueles apelidos que partem de uma junção de dois nomes, como Carlos Eduardo, que vira Cadú, ou Maria Lúcia, Malù, e assim vai... O chato mesmo são os apelidos inventados por despeito ou pura maldade. Com o objetiva de execrar, humilhar ou ridicularizar. Conheci os apelidos mais engraçados do mundo. Quem andou pela Bahia, ou interior, deve ter conhecido também. Lembro de muitos. Tantos, que não vai dar para citar nem a metade. Aí vão alguns, só pra ilustrar o texto: Zé do Litro, Costa de Ralo, Coco Peco... Sem esquecer um que mais me chamou a atenção: De Rã. Quando ouvi pela primeira vez, não pensei que era um apelido. Parecia um nome francês. Que nada... Era a abreviatura de outro apelido: Cú de Rã. Felizmente, lá ninguém briga ou se sente humilhado com esses apelidos. Muito pelo contrário. Assumem e usam como os seus próprios nomes. É muito comum, em época de eleições escreverem nos muros: Para Prefeito João Banana, Para vereador Mené Piroca, e assim vai...
Mas, na maioria dos casos, pelo menos aqui pelo sudeste, a coisa não funciona assim.
Agora vou confessar que eu mesmo já tive vários apelidos. O primeiro que eu me lembro, foi Beto Macaco e outros, mas eu não vou ficar aqui passando recibo.
Na verdade, eu nunca me importei, ou melhor, nunca me aborreci, me senti humilhado ou ridicularizado com os apelidos. Percebi que as pessoas que gostam de botar apelidos, fazem por maldade ou para parecerem engraçados. Tentam fazer humor ridicularizando alguém. Não sabem que para fazer humor, é preciso ter: Espírito, inteligência, alguma cultura, talento e acima de tudo, é imprescindível, senso de oportunidade, sem o qual, não passará e será para sempre um chato.
Toda vez que me aparecia um engraçadinho amador, tentando me botar algum apelido, na mesma hora eu passava a chamá-lo pelo mesmo apelido e na maioria das vezes pegava nele e o cara arranjava era muita briga, e quanto mais brigava, mais o apelido pegava.
Mas o interessante da história, aconteceu quando Zé Renato começou a se inturmar com a rapaziada da minha rua , participava das peladas, aparecia nas festinhas... Já andava até de namoro com uma das garotas da turma. Não era muito querido, mas também não era rejeitado. Bem ao estilo, “não fede nem cheira”
E vai daí... Nem eu nem ninguém conseguiu entender por que o tal de Zé Renato resolveu bancar o engraçado, e logo comigo que era considerado um mestre na arte de sacanear. Havia quem me achasse imbatível neste departamento.
Foi no meio de uma pelada, que eu nem estava jogando. A bola saiu pela lateral e veio em minha direção...
-Devolve a bola, o Perna Curta!! Gritou e saiu rindo sozinho. Ninguém havia se ligado na gracinha, Perna Curta, Perna Curta! Insistia na esperança de alguém aderir, e o apelido pegar. Mas era muito fraco e o sujeitinho não tinha o menor talento pra coisa e nada é mais deprimente que um humorista sem talento. Não dava nem pra devolver o apelido. Era muito fraquinho mesmo. Mas o cara insistia, quase pedindo pelo amor de Deus pra alguém aderir, e nada... Modéstia à parte, eu era muito respeitado neste particular e não era o tipo de briga que alguém quisesse topar comigo.
Fiquei olhando Zé Renato, quase com pena, mas não a ponto de deixar barato a ousadia.
Notei as suas pernas, um pouco arqueadas, e falei com muita calma e sem rir: Rapaz... Você fica aí falando besteira e nem percebeu que roubaram o seu jegue, e pensa que ainda está montado...
Tiãozinho pegou o peão na unha, deu uma gargalhada escandalosa arqueando as pernas com exagero. – Meu Deus!! Roubaram meu jegue. A molecada adorou, e a briga foi ficando feia para o pobre Zé que não era lá muito bom de porrada. Saiu correndo e a turma atrás. Roubaram meu jegue, roubaram meu jegue! Ele nunca mais falou com ninguém da turma, nem mesmo com a namorada. Mas sempre que ele passava na rua, aparecia algum sacana pra gritar e se esconder. Roubaaaram meu jeeeguee!!! Fiquei com remorsos...
Este causo aconteceu há mais de cinqüenta anos. Será que um dia ele vai me perdoar?
Fim