A MORAL RASTEJANTE
O homem se arrasta a caminho
de uma distante evolução moral
Recentemente, lendo “A arte da guerra”, milenar tratado de estratégia militar escrito por um quase lendário Sun Tzu, perguntei-me porque a humanidade insiste em ser guiada, do ponto de vista moral, por textos escritos há séculos ou milênios. A resposta me veio tão óbvia quanto aterradora: o homem evoluiu pouquíssimo em termos morais nos últimos quatro ou cinco milênios.
Enquanto a evolução tecnológica já atingiu a era exponencial – com as mudanças acontecendo de forma quase instantânea – a moral humana parece estacionada, quiçá regredindo. O resultado inevitável é o caos crescente em que vivemos. Basta um olhar atento para se perceber que nos últimos 200 anos, talvez apenas dois fatos tenham contribuído para a mudança, ou melhoria, moral do homem: o fim da escravidão e o advento da igualdade entre os sexos.
No entanto, mesmo essas não são verdades consolidadas – longe disso! A escravidão persiste, sob inúmeros disfarces, em quase todo o mundo. Os países muçulmanos, a Índia, a China, as sociedades tribais em geral, até mesmo os esquimós – que somados devem contar dois terços da população mundial – mal ouviram falar em igualdade dos sexos, e levará mais alguns milênios para que algo seja feito nesse sentido.
Nossos códigos morais são arcaicos e se referem a sociedades ainda mais bárbaras que a nossa: a Bíblia, cujos textos mais recentes têm quase dois mil anos, diz respeito sobretudo ao povo judeu oprimido em sua “terra santa”. Grande parte das seitas cristãs prefere citar como verdades morais os textos do antigo testamento, ignorando os ensinamentos de Cristo. Isaías, Jeremias, e outros profetas, o Gênesis, atribuído a ninguém menos que Moisés, estão sempre nos sermões – daí a volta à subserviência das mulheres, a justificativa para a ganância, o preconceito, a xenofobia, a vingança ... Está tudo na Bíblia, basta ler de forma crítica.
Em todo o mundo, os códigos morais têm essa característica. Nossa filosofia é grega (aqueles mesmos que dominaram meio mundo à base da força, que mantinham escravos e tratavam as mulheres como cidadãs de segunda classe). Nosso pensamento moderno é fruto da carnificina da Revolução Francesa, da Revolução Russa, da Revolução Industrial, e tantas outras – que revolveram a massa mas deram ao mundo o mesmo bolo, com outra cobertura.
Na Idade Média, você podia sair de casa para cortar lenha e, quando voltasse, encontrar a casa queimada, os filhos mortos, a mulher seviciada, a vila destruída por uma horda de bárbaros. E eu pergunto: qual a diferença para os dias de hoje? A Justiça, que não funciona? A política, que abriga ladrões incontáveis? A polícia (esta é melhor nem falar ...)? Não, a única diferença é que você não sai mais de casa para cortar lenha.
Vivemos como aquele trabalhador – requentando a marmita e comendo a mesma comida sem gosto todos os dias. O marxismo requentou idéias dos iluministas, que requentaram a renascença, que requentou os gregos que, diziam, tiravam as suas idéias dos deuses imorais do Olimpo.
As filosofias e ideologias foram, jornalisticamente, condensando as chaves para uma evolução moral do homem, que nunca foi posta em prática. Platão, Moisés, Cristo, Confúcio, Voltaire, Marx, mesmo que ainda não possamos avaliar bem o efeito das idéias de Camus ou Sartre – todos divergiram na casca, mas convergiram para algo bem próximo do velho lema da Revolução Francesa: liberdade, igualdade, fraternidade, algo tão fácil de lembrar, tão difícil de por em prática.
Todas as filosofias e ideologias estão velhas, ultrapassadas, porque tudo já foi dito e o homem não muda por palavras – só com atitudes. E quem sou eu para dar lição de moral em alguém?
(Direitos reservados ao autor. Publicado pela primeira vez em 18/06/2005 no blog do autor)
O homem se arrasta a caminho
de uma distante evolução moral
Recentemente, lendo “A arte da guerra”, milenar tratado de estratégia militar escrito por um quase lendário Sun Tzu, perguntei-me porque a humanidade insiste em ser guiada, do ponto de vista moral, por textos escritos há séculos ou milênios. A resposta me veio tão óbvia quanto aterradora: o homem evoluiu pouquíssimo em termos morais nos últimos quatro ou cinco milênios.
Enquanto a evolução tecnológica já atingiu a era exponencial – com as mudanças acontecendo de forma quase instantânea – a moral humana parece estacionada, quiçá regredindo. O resultado inevitável é o caos crescente em que vivemos. Basta um olhar atento para se perceber que nos últimos 200 anos, talvez apenas dois fatos tenham contribuído para a mudança, ou melhoria, moral do homem: o fim da escravidão e o advento da igualdade entre os sexos.
No entanto, mesmo essas não são verdades consolidadas – longe disso! A escravidão persiste, sob inúmeros disfarces, em quase todo o mundo. Os países muçulmanos, a Índia, a China, as sociedades tribais em geral, até mesmo os esquimós – que somados devem contar dois terços da população mundial – mal ouviram falar em igualdade dos sexos, e levará mais alguns milênios para que algo seja feito nesse sentido.
Nossos códigos morais são arcaicos e se referem a sociedades ainda mais bárbaras que a nossa: a Bíblia, cujos textos mais recentes têm quase dois mil anos, diz respeito sobretudo ao povo judeu oprimido em sua “terra santa”. Grande parte das seitas cristãs prefere citar como verdades morais os textos do antigo testamento, ignorando os ensinamentos de Cristo. Isaías, Jeremias, e outros profetas, o Gênesis, atribuído a ninguém menos que Moisés, estão sempre nos sermões – daí a volta à subserviência das mulheres, a justificativa para a ganância, o preconceito, a xenofobia, a vingança ... Está tudo na Bíblia, basta ler de forma crítica.
Em todo o mundo, os códigos morais têm essa característica. Nossa filosofia é grega (aqueles mesmos que dominaram meio mundo à base da força, que mantinham escravos e tratavam as mulheres como cidadãs de segunda classe). Nosso pensamento moderno é fruto da carnificina da Revolução Francesa, da Revolução Russa, da Revolução Industrial, e tantas outras – que revolveram a massa mas deram ao mundo o mesmo bolo, com outra cobertura.
Na Idade Média, você podia sair de casa para cortar lenha e, quando voltasse, encontrar a casa queimada, os filhos mortos, a mulher seviciada, a vila destruída por uma horda de bárbaros. E eu pergunto: qual a diferença para os dias de hoje? A Justiça, que não funciona? A política, que abriga ladrões incontáveis? A polícia (esta é melhor nem falar ...)? Não, a única diferença é que você não sai mais de casa para cortar lenha.
Vivemos como aquele trabalhador – requentando a marmita e comendo a mesma comida sem gosto todos os dias. O marxismo requentou idéias dos iluministas, que requentaram a renascença, que requentou os gregos que, diziam, tiravam as suas idéias dos deuses imorais do Olimpo.
As filosofias e ideologias foram, jornalisticamente, condensando as chaves para uma evolução moral do homem, que nunca foi posta em prática. Platão, Moisés, Cristo, Confúcio, Voltaire, Marx, mesmo que ainda não possamos avaliar bem o efeito das idéias de Camus ou Sartre – todos divergiram na casca, mas convergiram para algo bem próximo do velho lema da Revolução Francesa: liberdade, igualdade, fraternidade, algo tão fácil de lembrar, tão difícil de por em prática.
Todas as filosofias e ideologias estão velhas, ultrapassadas, porque tudo já foi dito e o homem não muda por palavras – só com atitudes. E quem sou eu para dar lição de moral em alguém?
(Direitos reservados ao autor. Publicado pela primeira vez em 18/06/2005 no blog do autor)