DIA DO AGRICULTOR

(28 de julho)

Prof. Antônio de Oliveira

aoliveira@caed.inf.br

Para homenagear o agricultor, a gente pode ir fundo. “Pater meus agricola est” (João 15). Meu pai é agricultor, disse Jesus identificando-se com a vinha. E a gente se esquece de que até o pão nosso de cada dia provém das mãos do agricultor e que ainda há gente morrendo de fome por situação de míngua ou por escassez de víveres.

Usando ainda do recurso à Bíblia (I Cor. 10), São Paulo constata que constituímos um só corpo todos nós que participamos de um mesmo pão.

Segundo uma lenda, lá no mar tem uma ilha, dentro da ilha tem um castelo, dentro do castelo tem uma torre, dentro da torre tem um quarto, dentro do quarto tem uma arca, dentro da arca tem uma caixa, dentro da caixa tem um cofre, dentro do cofre tem um frasco, dentro do frasco tem uma pomba, dentro da pomba tem um ovo, dentro do ovo tem uma chave e é essa chave que abre a porta da prisão onde está a princesa encantada.

O pão de que nos alimentamos também vem da farinha que vem do trigo que vem da terra boa que vem da semente que vem do semeador. Só que alimento não é objeto ou alguém encantado. Ou, se é encantado, para desencantá-lo, é preciso plantar. E da semente vai resultar o milagre da vida, com um mosaico de sabores de cuja origem nem sempre nos damos conta: o agricultor.

Tarefa de perseverança é o semear. Saiu o semeador a semear. E o semeador, diz Padre Antônio Vieira, no Sermão da Sexagésima, comentando a Parábola do Semeador, não desanima nem com a primeira nem com a segunda nem com a terceira perda. Lança mão da quarta semeadura, e colhe dela muito fruto.

Comida não dá no asfalto. Asfalto serve para transportar alimentos e pessoas supostamente bem alimentadas. Mas vale a pena sonhar. Assim como Martin Luther King sonhou em favor do negro, também tenho um sonho em favor do verde: bem que poderíamos trocar todos os cinturões de couro, em que se dependuram armas e cartucheiras, por cinturões verdes donde os agricultores, devidamente valorizados, forneceriam aos centros urbanos os produtos hortigranjeiros. Trocar projéteis por projetos. Balas perdidas com cheiro de pólvora por produtos hortigranjeiros achados na feira com cheiro de hortaliças e flores. E verde. Muito verde. Fotossíntese libertadora e reviviscente.

Quanto a sonhar, é bom sonhar. O sonho projeta e alimenta a realidade. “Tenho em mim todos os sonhos do mundo”, sonhou Fernando Pessoa.

E, segundo Próspero, personagem de William Shakespeare em A Tempestade: ¨Nós somos feitos da mesma matéria dos sonhos”.

Depois de tanta alegoria, mais esta: A semente é a palavra de Deus (“Semen est verbum Dei” – Lucas, 8,11). Pois é. Quem tem ouvidos de ouvir, ouça.

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 27/07/2010
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