DIA DO FUTEBOL

- 19 de julho -

Prof. Antônio de Oliveira

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A palavra “metafísica” foi usada, inicialmente, para designar a doutrina aristotélica contida nos livros depois, ou além dos da física. O estudo da filosofia, historicamente, passou a ter como ápice o mundo das essências ou metafísica que, como tal, não atrai espíritos que se julgam objetivos e pragmáticos. No entanto, o que transcende está aí, transformando matéria inerte em cultura, em turismo e entretenimento, em tecnologia, em indústria e comércio, em mercado de trabalho, em investimentos, em vida, enfim.

A Terra, de avião, é uma imensa bola num espaço infinito, delimitado pelo branco de nuvens, pelo azul de águas, verde de florestas, campos e vales e tabuleiros salpicados de casinhas. À noite, pequeninos pontos de luz. Para José Saramago, o globo terrestre é uma “uma bolinha de lodo que chamamos Terra”. Essa bolinha se espelha, se contempla e se celebra numa jabulani, artificial, talvez feita à imagem e semelhança uma da outra: uma bola de futebol, tipo esfera terrestre, de global ressonância metafísica. Será por isso que se preferiu o termo globalização a mundialização ou internacionalização?

Desse amuleto, uma bola, se irradia um poder misterioso, um brilho especial, talismã que radialistas e comunicadores assumem via satélite. Um poder mágico, capaz de mobilizar milhões de seres pensantes, cuja maior referência é... uma bola. Bola de couro, chutada, espancada, imagem também da nossa Terra, abusada, desvirginada, dilapidada. Bola que se transforma em troféu beijado, taça de ouro. Vale tudo: delírio, deslumbramento, chute de efeito, defesa sensacional, matar no peito, garrinchar por entre as pernas do adversário; pedalar; gol olímpico, gol de bicicleta, gol de ouro, gol de placa...

Já se disse até que uma torcida organizada, ondulando nas arquibancadas e fazendo estremecer todo um monumental estádio, é bem uma imagem simbólica da força do povo de Deus em ação. Por analogia, de uma torcida de Deus! Com efeito, uma grande liturgia, uma cerimônia espetacular protagonizada pelos jogadores e entusiasticamente participada pelas torcidas organizadas cujas vozes responsoriais, cujos hinos marciais e instrumentos se alternam nas arquibancadas. E a bola... Ah! Essa rola como um talismã ambicionado, misteriosa lâmpada de Aladim e, quando adentra o gol, é uma visão de glória, de vitória, de triunfo, de cena apoteótica, de gooooooool!!!

Animal racional, na prática o homem não passa de um ser simbólico, um pensante à sua maneira, eventualmente um pensador. Segundo Klimke, também a teoria dos valores não passa de uma velada metafísica, “est velata quaedam metaphysica”. O que é essencial e o que é secundário? O que é principal e o que é acessório? O que vem primeiro, o principal ou o acessório? Fama, poder, conta bancária, será isso acessório ou principal? O que é objetivo e o que é ou não é real? O que é encarnado e o que é transcendental?

Ah! Deixa essas elucubrações pra lá. Mais vale um gol de letra...

fernanda araujo
Enviado por fernanda araujo em 19/07/2010
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