PESADELO REAL
Ajoelhada nos paralelepípedos da Joaquim Leite, sentia muita dor, desespero e medo . A dor na verdade não era a dos golpes que havia levado, era uma dor de angústia, de sofrimento, de revolta, de amargura, continuei a ouvir gritaria, choros, pedidos de socorro, as pessoas não pararam enquanto não fui socorrida, afinal, era uma guerra travada entre a vida e a morte.
Um amigo agachou-se ao meu lado, pude ver nitidamente a expressão desesperadora de seu rosto, pegou-me no colo e colocou-me na parte de trás do carro de meu vizinho, por alguns instantes, achei que ele estava ignorando-me por pensar que iria morrer e que seu esforço seria em vão, a princípio tive medo de que realmente todo aquele rebuliço não valeria de nada, pois, eu já não sentia os cortes, o meu corpo já não estava mais ali, pensei estar vendo a cena do outro lado da vida.
De repente, silêncio, as pessoas cessaram a zoeira, o desespero só estava ali, já me encontrava numa estrada, uma via que levaria ao caminho de minha salvação, não havia momento para reflexão, mas, pensei assim: “ De que o ser humano é capaz”... Eu tinha uma enorme fé que Deus me salvaria e por todo aquele caminho pensei com tamanha fé!
Algum tempo depois, chegamos num local que fez-me recordar como esta história iniciou, desespero, gritaria e novamente pedidos de socorro, acabara de chegar a um hospital, dor, sangue, lágrimas, medo e somente uma certeza, a de que Deus estava comigo e não iria me abandonar, chegaram os profissionais de Deus, vestindo jalecos brancos, eram uns dez com um único próposito: salvar a minha vida”! Passaram por mim, olharam-me e um deles perguntou-me se estava bem, daí eu respondi: -“Mas como doutor”? Talvez aquilo tudo fizesse parte de uma sina que eu deveria cumprir.
O médico afastou-me e aproximou-se outro profissional, desta vez, um anestesista, daí, num momento não muito confortável para alguém que sem precisar de um mínimo gesto, espinava sangue por todos os lados, virou-me e enfiou-me uma agulha com um líquido na qual fez-me adormecer, pronto, começava ali a etapa mais complicada daqueles profissionais, vencer a morte, com a ajuda de Deus, o vosso instrutor.
Ao amanhecer, demorei, mas acordei, olhei para a enfermeira e percebi que estava viva, fiquei perplexa, mas, muito agradecida, feliz, apesar de tudo! Como se ela entendesse o meu sofrimento, fez menção de chorar, passou as mãos nos meus cabelos e respirou fundo. Ela, uma senhora com seus sessenta anos, experiente, amável, uma profissional sem igual, conquistou um espaço no meu coração e vive aqui até hoje e apesar de toda a sua carga de experiência, quando viu-me acordada, ficou surpresa ao deparar-me respirando bem e tentando esboçar um pequeno sorriso de alívio, de vitória, de satisfação, de agradecimento, enfim, um sorriso de alguém que acabara de acordar de um pesadelo que infelizmente, foi real!
Esta página faz parte do livro de minha vida desde 07 de julho de 1998!