Razão e sensibilidade

No romance Sense and Sensibility, da escritora inglesa Jane Austen (1775-1817), duas irmãs, depois de considerável dose de sofrimento, aprendem a seguir o bom caminho, que se encontraria entre a razão (“sense”) e a emoção (“sensibility”). Contudo, o leitor terá a impressão de que, no final das contas, quem menos se modifica é Elinor, a irmã racional, ao passo que a romântica e expressiva Marianne altera grandemente sua visão de mundo, chegando mesmo, no final, a substituir em sua afeição o jovem e impetuoso Willoughby pelo “honorable” coronel Brandon.

A partida de sexta-feira, dia 2, de Brasil contra Holanda pode talvez ser compreendida como o embate entre a razão e a sensibilidade, em que, infelizmente para nós, venceu a primeira, como no livro de Austen.

Aos 10 minutos do primeiro tempo, os holandeses sofriam um gol, numa jogada magistral da esquadra brasileira. Além disso, ao longo de toda a primeira etapa a equipe brasileira mostrava-se muito superior a seus adversários. Novo gol era questão de tempo, e a partida estava ganha!

No entanto, os holandeses não se desesperaram, nem muito menos perderam em momento algum a presença de espírito. E isso, é preciso que se compreenda bem, sob condições muito adversas: enfrentavam uma camisa pentacampeã, um futebol inigualável (a despeito do que pudessem dizer Maradona e o ex-jogador Sócrates) e, o que era pior, perdiam.

No vestiário, porém, os holandeses, de sangue frio, divisaram uma estratégia para reverter aquela situação desfavorável. Inicia-se, então, a segunda etapa, e já aos 8 minutos, num lance de bola parada, o meia Sneijder, que pouco aparecera no primeiro tempo, desloca-se para receber a bola e de imediato a lança para a área brasileira. A bola, caprichosa, bate na cabeça de Felipe Melo, numa falha do goleiro Júlio César, e desgraçadamente chega às redes brasileiras. Gol da Holanda!

Uma falha apenas, “coisas do futebol”, como se costuma dizer. Nada, enfim, que não pudesse ser contornado. Afinal, os holandeses não haviam eles até ali enfrentado situação ainda mais desfavorável? Entretanto, a partir deste momento, o Brasil desaba, e o algoz dessa ruína foi justamente o descontrole emocional. A razão, a presença de espírito tomava agora a frente e subjugava a emoção, fazia dobrar-se, partir-se aquele “coração na ponta das chuteiras”.

O segundo gol da Holanda era agora questão de tempo...

Cabreux
Enviado por Cabreux em 10/07/2010
Reeditado em 11/07/2010
Código do texto: T2370507
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