Anibal Conserta Automoveis e Corações
CONSERTANDO CARROS E HOMENS
O que o homem faz de acordo com a lei do bem lhe proporciona tranqüilidade e contribui para sua elevação; toda violação provoca sofrimento. Este prossegue a sua obra interior; cava as profundidades do ser, traz para a luz os tesouros de sabedoria e beleza que ele contém e, ao mesmo tempo, elimina os germens malsãos. Prolongará sua ação e voltara à carga por tanto tempo quanto for necessário ate com as forças divinas; mas, na prossecução dessa ordem grandiosa, compensações estarão reservadas à alma. Alegrais, afeições períodos de descanso e felicidade alternarão, no rosário das vidas, com as existências de luta, resgate e reparação. Assim, tudo é regulado, disposto com uma arte, ciência, uma bondade infinita na Obra Universal. Leon Denis (O problema do ser, do destino e da dor).
Nos subúrbios da cidade interiorana, longe do burburinho das grandes metrópoles, uma pequena oficina mecânica, de automóveis e motocicletas, bem equipada, tem em seu proprietário o mecânico Aníbal seu dedicado servidor.
Sua família se constitui de sua mulher Esmeralda, e sua filha adolescente Isaura.
Ao redor do galpão da oficina, uma área rural se estende com arvores frutíferas e um lago piscoso. Cães e galinhas á solta dão uma sensação de paz e de liberdade.
Aníbal martela um pedaço de ferro, mas o som morre nas águas calmas do lago.
Era uma segunda feira de manhã quando chega na oficina um velho Cadilac bi color, com a capota reversível amarela, e poltronas de couro branco.
O motorista o deixou estacionado e se dirigiu até a bancada onde Aníbal estava limando uma peça.
- Bom dia! Disse o motorista, tirando o boné.
Aníbal virou-se e o cumprimentando o convidou a entrar.
- Este é o carro do Dr. Afonso Queiros, ele quer que o senhor faça um serviço no cambio que está com um barulho estranho.
Deu-lhe o cartão de visitas do Dr.Afonso e se retirou.
Aníbal leu o cartão o colocou no bolso da camisa, voltou em seguida para o torno a fim de terminar o serviço da motocicleta que havia iniciado.
Às 11 horas abriu a garrafa térmica e saboreou um delicioso café feito por Esmeralda, abriu o papel de alumínio e dentro havia um delicioso lanche,
O Cadilac ainda estava parado fazendo parte da paisagem.
Aníbal ajustou a peça elaborada do motor da velha moto, depois de ajustá-la e colocar um pouco de óleo no Carter, a fechou e dando uma volta com ela pela propriedade constatou que estava pronta. A estacionou próxima de uma frondosa arvore e em seguida foi até o Cadilac que ainda estava com o motor aquecido, o dirigiu até o elevador e o deixou em posição de ser levantado, e examinando pela parte de baixo constatou que não seria difícil retirar o cambio e abri-lo a fim de vê-lo por dentro o que estava sucedendo, abriu na Internet e verificou através dos sites dos carros antigos o desenho técnico daquele cambio, imprimiu uma copia.
Já era hora do almoço e sua filha Isaura lhe trouxe um laudo almoço colocando os pratos e os talheres sobre a mesa. Ficou admirada de ver aquele luxuoso carro encima do elevador, Aníbal tomou um aperitivo e almoçou. Isaura foi embora levando o que restava do almoço, os cães farejavam aquela toalha e a perseguiam latindo até o portão.
A tarde foi chegando, Aníbal já havia telefonado para vários fornecedores, nenhum tinha peças que ele necessitava.
Pegou as ferramentas e começou a desmontar o cambio do Cadilac, José um jovem aluno de engenharia mecânica, sempre o visitava pela tarde, e o vendo ali debaixo daquele carrão, lhe ofereceu ajuda, Aníbal aceitou prazerosamente, depois de algumas horas os dois levavam o cambio desmontado até a bancada.
Aníbal colocou um plástico escuro sobre o cambio desmontado, combinando com José para vir no dia seguinte, e subindo na moto foi pra casa.
Chegando em casa fez o ritual de sempre, colocou a roupa suja no cesto da lavanderia e foi pra banheiro externo tomar seu banho reparador, Esmeralda já o estava esperando com roupa limpinha do lado de fora.
Aníbal foi até a cozinha e juntamente com Esmeralda, jantou. Em seguida foi até o seu computador caseiro e através de um programa viu o cambio funcionar, observando como o óleo e as engrenagens se movimentavam no interior daquela peça. Selecionou as engrenagens principais e as programou para serem feitas.
Isaura o chamou para juntos assistirem um filme que já estava começando, Aníbal preferiu ir pro quarto a fim de ver uma partida de futebol, quando Isaura depois de ver o filme adentrou o dormitório viu que Aníbal dormia e os jogadores já estavam indo pro vestiário.
Esmeralda tinha sempre a precaução de antes de por a roupa suja na maquina, examinar os bolsos, encontrou o cartão do Dr. Afonso, e o colocou numa caixinha aposta pra isso.
Aníbal no dia seguinte, foi pra oficina bem cedo, tocou o telefone, era o Dr. Afonso querendo saber de seu carro, Aníbal lhe explicou das dificuldades e lhe prometeu para a tarde daquela terça-feira.
Retirou a peça danificada, deu a José para ir buscar uma nova na cidade...
O professor de José ficou admirado da capacidade profissional de Aníbal, e foi com seu carro até o centro da cidade que distava meia hora.
Voltaram depois de uma hora com a peça, deram a Aníbal e depois de vê-la colocada
Com a peça nas mãos voltou para a bancada e a colocou na posição adequada. Fechou o cambio, e fazendo girar numa rotação mínima notou que nenhum barulho se ouvia.
Às 16 horas chegaram o motorista e o Dr. Afonso, o Cadilac estava no mesmo lugar que o motorista o havia deixado no dia anterior.
- Dr. Acho que eles nem mexeram no carro, disse o motorista.
-Isso veremos em seguida, disse o Dr.
Adentraram a oficina e encontraram Aníbal e seus dois colegas mexendo no novo equipamento adquirido, um moderno torno comandado por um computador.
Aníbal cumprimentou o Dr. Afonso lhe informou que estava fazendo o recibo, o motorista em seguida pegou as chaves e foi dar uma volta para testar o serviço.
Voltou depois de uns quinze minutos e disse:
- Tudo bem, doutor.
Por favor, me acompanhe até o escritório, disse Aníbal, (na verdade uma mesinha com duas gavetas). Aníbal lhe apresentou a conta, sua filha Isaura chegava com seu a garrafa térmica com café fresco e o cartão que Aníbal havia esquecido no bolso da camisa.
Deu o cartão a Jose que o lê e muda o semblante, Aníbal notou e pediu para Isaura leva--lo fora da oficina. O motorista deu um sinal de OK, o advogado deixou um cheque com Aníbal, voltou todo contente para seu Cadilac.
Aníbal foi até o canto onde estava inconformado,seu amigo José, o levou até a mesinha pondo no meio de um livro o cheque do advogado.
José lhe informava que aquele homem era o juiz que tinha condenado seu pai a prisão por uma simples operação ilícita numa negociação comercial, embora seu pai fosse inocente, e por não ter dinheiro para pagar um advogado teve que vender, seu carro.
José pediu para ele sentar e escutar o que tinha a dizer:
- Hoje você viu um advogado competente aonde pode chegar, belo carro, pagar sem ratear qualquer importância, ter um motorista à sua disposição e é isso que você deve ser, para isso você deve dirigir todas as suas forças. Aquele que se revolta, e através da violência só pensa em se vingar de seus algozes, isso é dar murro em ponta de faca. Se você tiver a capacidade para alcançar êxito em sua existência, através de seu próprio esforço. Se você estudar, formar-se em engenharia mecânica, aprender outro idioma, as chances são inúmeras, enquanto se você pensar em se vingar e somente esse pensamento tiver em sua cabeça, o tempo passará, você envelhecerá pobre e mau humorado.
O Engenheiro que tudo escutava felicitou Aníbal e abraçando José, o levou para casa.
Aníbal colocou o cheque na carteira, fechou a oficina e feliz voltou para casa, onde Esmeralda o esperava para ir ao mercado.