ATRAVÉS DAS COPAS DO MUNDO
Na Copa de 50, tinha três anos e meio e dela não tenho lembrança definida: às vezes, parece que me lembro de um ou outro episódio familiar ligado ao evento, mas acho que são “memórias” externas, isto é, comentários que me penetraram e me conferem a falsa impressão de recordar. Lembro com certa imprecisão - mas lembro - da Copa de 54, vencida pela Alemanha contra a Hungria, torci pela Hungria de Puskas. Já morava em Encantado. Em 1958, acompanhei tudo e vibrei intensamente, ora por radinho de pilha, ora pelos alto-falantes na Praça da Alfândega, em Porto Alegre, e, finalmente, pelo rádio GE a válvulas, na casa de meus pais, em Encantado, pois já estava em férias escolares. Os jogos da Copa de 62 segui todos também pelo rádio, em Porto Alegre, e foi sensacional, ainda que não tanto quanto os de 58, que foi a primeira Copa do Mundo vencida por um Brasil que ainda chorava a perda de 1950, em pleno Maracanã. Na Copa de 66, já morávamos, todos, em Porto Alegre e ouvíamos os jogos sofridos pelo rádio potente da eletrola de meu pai – RCA Victor - , que tinha toca-discos duplo: para 78 rotações e para os de vinil de 33 rotações, assim como um específico para os discos de 45 rotações. Nossa seleção foi um fiasco. A modernidade surgiu na Copa de 1970, televisionada ao vivo. Foi extraordinário, porque a seleção partiu desacreditada do Brasil e deu show. Muita festa na rua e papel picado caindo dos edifícios. Assisti em casa, na Avenida Senador Salgado Filho, o jogo mais empolgante e decisivo da competição: Brasil x Inglaterra, campeã de 1966 e que tinha uma baita seleção. Vencemos por 1x0, gol de Jairzinho, que fez explodir a cidade, o Estado e o País. As pessoas iam para as ruas comemorar. Em 74 e 78, fracasso, apesar da boa qualidade dos televisionamentos em cores. Fomos “campeões morais” em 78: terceiro lugar, invictos, tendo empatado com os campeões, donos da casa, a Argentina, em jogo tenso onde até estivemos levemente superiores. Em 82, a melhor de todas as seleções, que caiu naquele embate dramático contra a Itália. Muitas lágrimas de meu filho pequeno; fiquei arrasado. Em 86, foi triste, Zico perdeu pênalti. Em 90, desgraça total: eliminados pelos argentinos. Loucura total em 94, umas 30 pessoas na casa em que eu morava, lá na Vila Assunção, churrasco interminável de penalidades máximas, lágrimas, gritos, palavrões, boa carne e cerveja, com muitos colegas de Faculdade de meu filho, do Direito da UFRGS. Meus filhos, então, descobriram o que era ser campeão do mundo no futebol e o imenso prazer de tal conquista. Em 98, muita tristeza. Em 2002, glória ao nascer do sol, maravilhas de Ronaldo, alegria renovada, eu e minha filha em festa no apartamento em que eu residia, solteiro, na Rua Coronel Fernando Machado. Em 2006, 2010, 2014, melhor esquecer, ainda que os 7 x 1 que levamos da Alemanha seja inolvidável: ridículo, não fora trágico. Felizmente, a alemoada boa de bola venceu a Argentina, senão a flauta e a desgraça esportiva seriam ainda maiores. O mundo mudou, não dá pra dizer, hoje, que o Brasil seja "o país do futebol". O bicho tá pegando parelho. Ou vai ou racha, só não desejo fiasco.