Quando tudo se mistura

Parei meu pensamento em meio a multidão. Eram tantos, gritos, urros e cornetas que soavam a abertura de monumentais portões, os quais a o estouro da boiada socava forte o solo e a casca de tudo que sustentava corpos e pensamentos, se quer tremi. Tanto me concentrei que me dispersei dentro de meu próprio foco, e no silêncio da alma, onde de fato seria o lugar mais residente e propicio ao ser, era então pleno e total desconhecido. Tentei ouvir no frustrante silêncio meu coração, que se quer sussurrava seu paradeiro, enlouqueci mais que o total possível e desesperado, me perdi dentro de mim e não sabia mais o que pensar, como quem se afoga, agitado debati, gritei, tentando ganhar minha superfície e inútil era, poucos centímetros lucrava na empreitada em pisar novamente na realidade de meu ser, meu solo sólido e oco, quando me senti mais firme foi quando desabei e quebrei a casca frágil de minhas poucas e todas virtudes e me ajoelhei ao chão e sai de dentro de mim. Respirei ofegante o ar da multidão, tantos, sons e sentidos, faria sentido sentir o sentimento agora, senti. Vi. Toquei e olhei, busquei onde estava além de fora de mim, alguns diriam louco e perdido, mas tudo se misturou, o dentro e o fora, de fora para dentro e do dentro com o fora, tudo era tudo agora, e não distinguia o ser do silêncio da alma do homem das palavras gritadas, clamei, chorei, tentei negar o fato, e aceitei por fim, era só um homem, uma energia em desfoco conflitante em seu meio gerador, debatendo quilómetros a fio sem paradeiro algum, ouvi distante em meio a tudo batidas fortes de som ensurdecedor, batidas que calavam a multidão, silenciava as cornetas e me remetia a algo mais que familiar, mas ali entre tantos, nada era familiar dentro do dentro de meu eu, perto da alma, vizinho a carne, e não ouvi o bater que ali ouvia, busquei, parei o corpo apenas, e segui meu pensamento ao som que me deixava ainda mais vivo, minha alma buscou por si o que a completava em sentido real, em meio ao caos, meu chão agora em escombros, ergui a carne entre tantos que agora eram só um ser, dentre a multidão encontrei as batidas de um coração, era engraçado, pois apesar de nada mais ouvir a minha volta de tal potência, todos caminhavam tranquilamente, e para mim, todos e tudo esta ali, no dispersar de todo o meu foco que se tornou meu motivo de viver, havia buscado errado dentro do homem que era, para saber e escutar o que já existia fora da alma, sua complexa necessidade de se completar, e naquele centro de universo individual, estava uma batida de coração não só parecida com a que me era ausente no peito, intensa. Tanto estrondo diante de quem buscava um sussurrar, foi de fato, esclarecedor, estava diante de meu próprio coração.