Exame complicado
A festa estava animada. Os convidados demonstravam variado interesse; alguns dançavam, embalados por excelente conjunto musical; outros conversavam sobre assuntos sérios, relacionados ao trabalho ou à vida familiar. Separados em um canto da sala, circunspectos convivas observavam a sandice dos que abusavam da farta bebida, servida por atencioso garçom.
Marlene, bela senhora de vinte e oito anos, dizia para sua interlocutora, Glória: “Como gostaria de ter filhos. Estou casada há três anos e continuo à espera de uma criança para embalá-la nos braços, acomodá-la no colo, cobri-la de amor, proporcionar-lhe todas as felicidades do mundo. Ah, seria um dia de suprema alegria se ouvisse do médico: Você está grávida!”. A jovem senhora suspirou, recebendo de sua ouvinte recomendações para fazer exames que comprovassem ou não a sua infertilidade.
Se negativo, não seria ela a culpada.
A conversa das duas senhoras foi interrompida pela súbita chegada do marido de Marlene, Antonio. Por alguns instantes, a companheira de palestra observou a imponente figura masculina diante de si; sua imaginação voou até a Itália, país onde teria vivido um homônimo do esposo da Marlene, apelidado de “o belo Antônio”. O epíteto servira ao italiano por ser este um jovem forte, bonito, de corpo atlético, mas de pouca serventia aos desejos femininos da carne. Em pensamento, Glória conjecturava: O esposo da amiga Marlene seria cópia daquele personagem?
De repente, juntou-se aos três um médico de respeitável reputação nos meios acadêmicos e sociais da cidade. Impulsionada por duas doses do bom uísque servido pelo anfitrião, a amiga da Marlene expôs ao doutor as agruras do casal, ali presente. Conversa daqui, explicações dali, por fim, Antonio foi aconselhado a fazer exame de esperma, para avaliar sua capacidade reprodutiva.
O rapaz não se fez de rogado; no dia seguinte, ainda pela manhã, procurou um especialista que atendesse pelo seu plano de saúde. Receita à mão, foi ao laboratório de análises clínicas, pois desejava resolver o assunto. Antonio sentiu-se meio encabulado ao ser atendido por uma jovem recepcionista. Deixando para traz a timidez, pediu decidido:
– Desejo um recipiente para depositar esperma. Preciso fazer exame de fertilidade.
Atendido com presteza, recebeu a encomenda envolvida em saquinho de plástico transparente, e seguiu para casa. Lá, no dia seguinte, logo pela manhã, obteria o material necessário à realização da pesquisa laboratorial. Acordou às seis horas da matina e foi ao banheiro do seu quarto de dormir. Ali, iniciaria a tarefa, adotando solitário procedimento.
O recipiente, segurado pela mão esquerda, aguardava o resultado das ações de Antonio; em movimentos inicialmente lentos, depois com certa veemência, prosseguiu na empreitada. Com a mão direita, não obteve resultado; experimentou a esquerda, num esforço repetitivo, e nada. Fez várias tentativas, sem êxito. Com os músculos exaustos, substituiu uma mão pela outra por várias vezes, até que, cansado da operação, e já exibindo certa impaciência, chamou a mulher, em alta voz:
– Marlene!
A esposa veio em seu socorro. Ciente do problema, partiu para o tudo ou nada. Começou com a mão direita, trocando-a depois de alguns instantes pela esquerda, em vigorosos movimentos, parando quando o cansaço se impunha. Ela também não obteve resposta às suas insistentes tentativas. Deixou o marido à espera e foi chamar a filha da vizinha, uma jovem de rara beleza, possuidora de braços tão fortes quanto às pernas moldadas por exercícios diários na academia de ginástica, frequentada assiduamente.
Lúcia, a bela garota que viera em socorro de Antonio, igualmente não resolveu a questão, embora utilizasse simultaneamente as duas mãos, e até a boca, em frenéticos movimentos. Forçou-o até desistir, vencida pelo cansaço. Todos, por fim, abandonaram a missão inglória, somente resolvida com o retorno de Antonio ao laboratório de análises clínicas.
A mesma recepcionista o atendeu, sempre solícita:
– Trouxe o material para exame, senhor?
– Não. Gostaria que me trocasse este recipiente, pois ninguém lá em casa, nem mesmo com ajuda da vizinha, conseguiu abri-lo.
O rapaz retornou no dia seguinte ao laboratório para entregar o material coletado, dessa vez com muita facilidade. Os esforços de Marlene, de Lúcia e dele próprio, para remover a tampa daquele frasco indomável, ficariam em sua lembrança, já poluída pela imagem da bela e prestativa vizinha.