Tristes fotografias

Hoje, recebi de uma amiga um e-mail sob o título: “Veneza em dia de maré cheia”. Estive nessa milenar localidade por duas vezes. Fotografias, filmes, apontamentos e farta literatura serviram-me para escrever sobre as visitas efetuadas a cidade que parece, dependendo da imaginação, submergir, flutuar ou emergir de águas profundas. Essa impressão dá-se quando se viaja a bordo de embarcação que leva o passageiro ao ancoradouro que dá acesso a histórica cidade. A sensação inicial é de que Veneza está afundando nas águas ou emergindo delas.

Uma cena espetacular!

O e-mail dessa amiga, com fotografias bem definidas, mostra-me imagens da Praça de São Marcos, principal logradouro por onde desfilam visitantes do mundo inteiro, mergulhada em águas do canal Botário, ampliado no ano de 1160 para aumentar o espaço da famosa praça. Tristemente, vi tomadas pelas águas revoltas, os passeios públicos que servem de palco aos milhares de columbídeos que fazem a alegria de visitantes, embevecidos por contemplarem lugares impregnados de história do mundo antigo.

As fotografias são contundentes. Mostram pessoas andando pelas ruas com água pelos joelhos. Espaços generosamente oferecidos aos turistas foram fotografados submersos. O Campanário, a Coluna do Leão e o Palácio Ducal, símbolos dos antigos venezianos, apresentam-se, nas fotos, tristemente inundados.

A Basílica de São Marcos, com cinco entradas em forma de arcos, torres e cúpula dourada, edificada e consagrada ao seu padroeiro em 832, mostra-se com seu pátio coberto pelas águas. Também inundados, aparecem a famosa galeria onde, no passado, o conquistador Casanova frequentava, exibindo-se no Café Florian, e o prédio em que Galileu Galilei instalou o seu telescópio; a Torre do Relógio e o Palácio do Duque de Veneza exibiam igualmente uma cena comovente.

Comovente foi a expressão mais adequada para a minha observação melancólica. Na primeira visita à Veneza, constatei marcas da enchente do ano anterior, onde as águas turvas do canal danificaram maravilhosos afrescos e geniais esculturas expostas na Basílica de São Marcos e no Palácio Ducal. Graças à pronta intervenção do governo veneziano, essas obras, de inestimável valor, foram restauradas para deleite de quem as contempla em visitas turísticas.

O e-mail enviado por essa amiga me entristeceu bastante. Temo que repetidas inundações um dia nos prive de contemplar a beleza arquitetônica da milenar cidade italiana. Gostaria, em uma próxima viagem, vislumbrar, da Ponte dos Suspiros, edificada em 1597, a legião de turistas que acorre anualmente à Veneza.

Que assim seja!