UMA LUTA INGLÓRIA

UMA LUTA INGLÓRIA

Há aqueles que não se entregam jamais. Lutam com todas as suas forças para não entregar os pontos, mas essa luta é contra aquele que não perdoa o seu adversário.

Estou falando do ser humano e do tempo. O homem é tido como o ser pensante mais inteligente, conforme imagina o próprio homem no universo de sua compreensão sobre os seres. Ele considera-se o senhor da terra. Comanda o seu próprio destino, assim como, o destino de todos os outros seres sobre a face deste planeta. O tempo, o implacável espaço, que nos dá a noção do passado, presente e futuro e, que ingenuamente acreditamos passar, quando na realidade somos nós os andantes desse tempo.

Mas o ser humano sabe ser persistente, tanto nas coisas más, como naquilo que supõe ser benéfico para si. Ele nunca desistiu em procurar o elixir da longevidade.

Quase todos os dias, assistimos a mídia notificar resultados de pesquisas de carater longevo, realizadas por cientistas dos quatros cantos do mundo, mostrando ao resto da humanidade, os diagnósticos e prognósticos de suas descobertas.

No dia seguinte os supermercados, hortifrutis, feiras livres, ficam congestionados de pessoas. É carrinho pra cá, é carrinho pra lá, uma verdadeira corrida ao ouro. Um dia é a berinjela, a laranja, a cebola; o ovo; quem diria o ovo que por tanto tempo foi o vilão do colesterol, hoje é uma fonte de tamanha importância na alimentação humana. Em outros dias é o abacaxi, o abacate, a beterraba, a água, as folhas, os chás; ainda em outros os exercícios físicos, em academias, nas caminhadas, corridas etc., etc. e etc.

São tantos os prognósticos proclamados, que as pessoas confundem-se: fazem exercícios quando deveriam repousar e repousam quando deveriam se exercitar.

O que fazer para viver mais e melhor? O que fazer para ter uma saudável longevidade?

Minha bisa, deitou para seu ultimo sono aos 106 anos. Ereta e quase sem as incômodas dobrinhas do tempo. Ela sim sabia e tinha o elixir da longevidade. Nunca visitou um médico e vice e versa. Não fazia exercícios. Caminhada só para apanhar água na cacimba e alimentos da horta, do pomar e da roça.

Acordava muito cedo. Levantava quando os primeiros raios do sol despontavam. Trabalhava duro o dia inteiro. Dormia cedo e descansava nos finais de semana, bordando ou tricotando blusas para suas bisnetas ou bisnetos.

Na sua época não havia geladeira. A carne era conservada na banha do porco. O feijão e o arroz eram refogados nessa mesma banha. Em compensação as frutas não sabiam o que era agrotóxico. As carnes não continham o hormônio, hoje servido nas rações dos animais. O açúcar não era refinado, o café era torrado em casa, o peru era criado no terreiro e não havia essas mutações genéticas, que nos são impostas como alimento a cada dia no mundo inteiro.

Stress? Minha bisa partiu sem sentir saudade. Logo, creio que a longevidade passa por um vivenciar de paz, harmonia e a ingestão de alimentos saudáveis. Hoje, o que era natural no tempo da minha bisa, atende pelo nome de “produtos orgânicos”, que custam os olhos da cara. Enquanto os mafiosos da boa alimentação levam o nosso dinheiro, nós nem ferro levamos. Os alimentos fornecidos, no lugar do elemento ferro, oferecem: o hormônio e o agrotóxico.

Lutem, guerreiem, mas ao ficar como está essa batalha será infinitamente desigual e por vezes fantasiosa.

Rio, 16/05/2010

Feitosa dos Santos